Lourdes,
Darcy, Plauto - as últimas vozes vão calando
José Antônio Silva
O violonista
Darcy Alves, o Professor Darcy, abandonou o instrumento e a vida neste mês de
março, às vésperas de festejar seus 83 anos. Foi mais um membro de uma excepcional
geração musical boêmia, do samba, do choro, da noite porto-alegrense, que teve em
Lupicínio Rodrigues (falecido precocemente em 1974, antes de completar 60 anos)
sua maior estrela. E olha que ele não foi o único a receber o reconhecimento e as
glórias da nação (antes da geração de Elis Regina): cantores como Elza Soares,
Germano Mathias, Luís Vieira, Noite Ilustrada e muitos outros vinham a Porto
Alegre para pedir a Túlio Piva uma canção inédita.
A Lupi e Túlio,
somavam-se nomes de compositores e/ou instrumentistas e cantores da altura de Alcides
Gonçalves (co-autor de muitos sucessos de Lupicínio), Johnson, Ruben Santos e
tantos mais: Plauto Cruz, Zilah Machado, Clio, Jessé Silva, Lúcio do
Cavaquinho. A roda de uma Porto Alegre boêmia à moda antiga – dos anos 40 ao
final dos 70 do século passado – incluía jornalistas, radialistas, políticos, artistas
e intelectuais como Hamilton Chaves, Demóstenes Gonzales, Glênio Peres, Hélio
Vasques da Silva, Antoninho Onofre. Reuniam-se em bares como Adelaide’s, Chão
de Estrelas, Batelão (um dos vários restaurantes que Lupi criou), Gente da Noite
e Pandeiro de Prata (ambos de Túlio Piva e nomes de dois de seus grandes
sucessos), Dona Maria e muitos outros.
Enfim, nos
últimos anos os remanescentes destas duas ou três gerações ligados à ideia
ainda romântica de uma boemia do samba, seresta, choro e gêneros assemelhados,
que atravessou o século XX em todo o Brasil, vêm desparecendo por força da
própria idade. Em Porto Alegre não é diferente.
Apenas no
ano passado, a música porto-alegrense perdeu nomes como a cantora Dona Lourdes
Rodrigues (uma das principais intérpretes de Lupi), falecida aos 76 anos, em
outubro; e o radialista e promotor cultural Glênio Reis, aos 86, em agosto.
Já há algum
tempo, sobrevive no esquecimento o virtuose Plauto Cruz, o Plauto da Flauta, em
sua casinha de madeira na Zona Sul da capital gaúcha, já sem condições de
soprar seu instrumento, aos 85 anos.
Antes que
toda essa geração desapareça, não está mais do que na hora, - em nome da
cultura, da música e da história gaúcha e porto-alegrense – de gravar seus
depoimentos num grande documentário sobre o samba, a seresta e o choro na Porto
Alegre do século passado, pelas vozes que ainda restam? E, é claro, em regime
de urgência?
5 comentários:
É, mais do que na hora mesmo, José Antônio. Bonito texto!
Obrigado, Cristina. Bom que tu gostaste. Abraço!
Caro Zé Antônio.Tudo em paz?
Quem anda fazendo um bom trabalho de resgate é o Bicudo junto com o Gerson Schirmer, O Gerson está no feice na minha relação....
Um abraço
Arthur Monteiro
Belezaço, Arthur! Tem que fazer isso mesmo, que os veínho tão tudo batendo as botas. Abraço!
Valeu, Geraldo. Preciso ver o doc do Nino sobre o Plauto. Com certeza tem valor. Mas venho pensando numa coisa mais ampla e abrangente.
Abraço, amigo!
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