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quinta-feira, 31 de julho de 2008

Mundo Visual (6)


Redação de O Interior (Fecotrigo, Porto Alegre, anos 80)


Ao telefone, José Roberto Garcez (hoje, presidente da Radiobrás); de costas, Betão Andreatta (recentemente falecido); ao fundo, pensativo dedo na boca, Caco Schmitt (aquele que, segundo ele mesmo, “não se omite”). O outro elemento retratado, de óculos, não foi identificado.


Tudo pelo traço irônico e as cores aquareladas de Edgar Vasques.


Nota: atenção ao contorno inconfundível das possantes máquinas de escrever, papéis para todos os lados, e um cinzeiro, natural da mesa, reinando sem culpas. Ah, sim: todos os jornalistas portam barbas, quase equivalentes a uma carteirinha do Sindicato...


Enfim: o desenho é praticamente uma descoberta arqueológica, retratando uma redação de jornal padrão à época – não muito depois da revolucionária invenção de Gutemberg...

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Crônica Minha (06)

A última irmã

José Antônio Silva


Eram sete irmãs. Esperança era a mais velha. Cheia de energia, animava as outras e seria a última a morrer. Caridade, ao contrário, doava-se demais, em todos os sentidos – havia sempre uma fila de homens frente a porta, à sua procura. Faleceu jovem, de uma doença venérea.

Justiça era portadora de deficiência visual, mas a vizinhança inteira recorria a ela para resolver suas pendengas. Arbitrando uma disputa mais acirrada, recebeu uma bala perdida que lhe prejudicou os movimentos: além de cega, ficou lenta.

Prudência não corria esse tipo de risco. Seus conselhos - única prenda que oferecia às outras – eram, evidentemente, sensatos e ponderados.

Sua irmã gêmea Temperança garantia o bom andamento da economia doméstica, entre outros serviços úteis. Eram, no entanto, consideradas as mais chatas da casa.

Força, além de fisicamente robusta (uma espécie de segurança e pau-pra-toda-obra da família) sempre dava um alento moral, levantando o astral das demais.

Nada que se comparasse, no entanto, à Fé. Esta, quando jovem, chegara a trabalhar no setor de engenharia de obras, removendo montanhas.

Era muito parecida com a primogênita Esperança, e por vezes elas mesmas não sabiam dizer onde iniciavam as obrigações de uma e de outra. Mas a contava com uma força maior, a qual vivia religiosamente apegada – embora o resto da família não soubesse dizer do que se tratava.

Apesar de tudo, alquebrada pela existência, fraquejou: já não era a mesma na hora da morte. Sorte sua que foi amparada naquele momento pela Esperança.

Com o tempo, uma a uma, as demais virtudes (com seus respectivos defeitos) foram se acabando.

A velha Esperança, entretanto, ainda sobrevive, cheia de manias, contra a razão, a idade, os achaques, os argumentos, o bom senso – quase contra tudo. Solitária em sua casa de arrabalde, agora perdida entre os arranha-céus que a cercaram, Esperança sabe que só poderá chegar ao descanso final depois de todos, depois de todo o mundo.




Publicada originalmente a 7 de maio de 1999, no Caderno Viver, do Jornal do Comércio (Porto Alegre)

quarta-feira, 23 de julho de 2008

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Balaiada Hightech (1)

Machista

Letra e Música:

união frutífera

de duas fêmeas

realizadas

em gozo e harmonia

a toque

do viril

instrumento


Felina

Com olho de lince

deu o pulo do gato

e pegou a parte do leão.

Virou amiga da onça


História profunda

No circo de hoje, é desumano e anticristão maltratar os animais. Mas no circo da Roma Antiga eram os animais que maltratavam os humanos cristãos.

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Mundo Visual (4)


Espetáculo "Vício & Verso", idos de 90, com os poetas Celso Gutfreind e Zé Weis (eu sou o da esq. na foto, com a franja displicentemente caída sobre a testa...)

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Convidado muito especial (2)

Algumas considerações sobre o Irã


O texto a seguir é de um geólogo brasileiro que passou algumas semanas na “terra dos Aiatollás” (hoje terra do trovejante presidente Mahmoud Ahmadinejad), o Irã. Como se verá, este relato breve e direto, sem cuidados politicamente corretos, revela bem mais do dia-a-dia atual do antiqüíssimo país do Oriente Médio do que a maioria das matérias de jornal. Confira.

Algumas considerações sobre o Irã. O povo aqui é diferente, as mulheres andam de véu mas dão bandeira direto na rua e nos cafés. Nada de roupas coloridas, apenas cores sóbrias. De manhã, eles comem cebola e alho crus, e não são chegados a banho diário. Comem de colher montanhas de arroz no almoço! Bebem chá preto direto, falam o Farsi (idioma totalmente estranho ao nosso ouvido) e não gostam de árabes (são arianos, Irahan significa a terra dos arianos). São gente boa, mas ficam melindrados facilmente quando chamados à atenção.

Pelo que conversei com o pessoal jovem (20 a 40 anos), todos não são muito ligados em religião e odeiam os aiatolás e o regime vigente. É proibido beber e não existem bares de bebidas alcoólicas, só no mercado negro.Teerã é uma cidade grande, parece que tem 13 milhões de habitantes e pelo trajeto que fiz por lá não observei miséria extrema. Por causa do embargo americano, a maioria dos carros é antigo e quem está fazendo a festa aqui são os franceses e os asiáticos. Aliás usam o “mercy” como obrigado.

A cidade é cercada de montanhas geladas o ano inteiro. No inverno neva, e no verão é um calor de matar devido à característica desértica da região. A região é instável geologicamente, mas não senti nenhum abalo sísmico. Na ilha de Kish ao sul, no Golfo Pérsico, fazem 50 graus no verão! O passeio bom de se fazer aqui é visitar as cidades históricas do tempo de Ciro e Dario, Persépolis e Pasárgada, onde sou amigo do Rei!

Onde trabalhei, a comida era boa mas diferente: muito carneiro todo dia, frango, arroz do deserto, pão sírio (persa?), ervilhas, tâmaras, pistache (uma delícia) e Kabab (espécie de churrasquinho).
Kodhafez (tchau)!