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segunda-feira, 23 de março de 2015

Lourdes, Darcy, Plauto - as últimas vozes vão calando

José Antônio Silva

O violonista Darcy Alves, o Professor Darcy, abandonou o instrumento e a vida neste mês de março, às vésperas de festejar seus 83 anos. Foi mais um membro de uma excepcional geração musical boêmia, do samba, do choro, da noite porto-alegrense, que teve em Lupicínio Rodrigues (falecido precocemente em 1974, antes de completar 60 anos) sua maior estrela. E olha que ele não foi o único a receber o reconhecimento e as glórias da nação (antes da geração de Elis Regina): cantores como Elza Soares, Germano Mathias, Luís Vieira, Noite Ilustrada e muitos outros vinham a Porto Alegre para pedir a Túlio Piva uma canção inédita.

A Lupi e Túlio, somavam-se nomes de compositores e/ou instrumentistas e cantores da altura de Alcides Gonçalves (co-autor de muitos sucessos de Lupicínio), Johnson, Ruben Santos e tantos mais: Plauto Cruz, Zilah Machado, Clio, Jessé Silva, Lúcio do Cavaquinho. A roda de uma Porto Alegre boêmia à moda antiga – dos anos 40 ao final dos 70 do século passado – incluía jornalistas, radialistas, políticos, artistas e intelectuais como Hamilton Chaves, Demóstenes Gonzales, Glênio Peres, Hélio Vasques da Silva, Antoninho Onofre. Reuniam-se em bares como Adelaide’s, Chão de Estrelas, Batelão (um dos vários restaurantes que Lupi criou), Gente da Noite e Pandeiro de Prata (ambos de Túlio Piva e nomes de dois de seus grandes sucessos), Dona Maria e muitos outros.

Enfim, nos últimos anos os remanescentes destas duas ou três gerações ligados à ideia ainda romântica de uma boemia do samba, seresta, choro e gêneros assemelhados, que atravessou o século XX em todo o Brasil, vêm desparecendo por força da própria idade. Em Porto Alegre não é diferente.

Apenas no ano passado, a música porto-alegrense perdeu nomes como a cantora Dona Lourdes Rodrigues (uma das principais intérpretes de Lupi), falecida aos 76 anos, em outubro; e o radialista e promotor cultural Glênio Reis, aos 86, em agosto.
Já há algum tempo, sobrevive no esquecimento o virtuose Plauto Cruz, o Plauto da Flauta, em sua casinha de madeira na Zona Sul da capital gaúcha, já sem condições de soprar seu instrumento, aos 85 anos.


Antes que toda essa geração desapareça, não está mais do que na hora, - em nome da cultura, da música e da história gaúcha e porto-alegrense – de gravar seus depoimentos num grande documentário sobre o samba, a seresta e o choro na Porto Alegre do século passado, pelas vozes que ainda restam? E, é claro, em regime de urgência?


5 comentários:

cristina macedo disse...


É, mais do que na hora mesmo, José Antônio. Bonito texto!

José Antônio Silva disse...

Obrigado, Cristina. Bom que tu gostaste. Abraço!

Anônimo disse...

Caro Zé Antônio.Tudo em paz?

Quem anda fazendo um bom trabalho de resgate é o Bicudo junto com o Gerson Schirmer, O Gerson está no feice na minha relação....

Um abraço
Arthur Monteiro

José Antônio Silva disse...

Belezaço, Arthur! Tem que fazer isso mesmo, que os veínho tão tudo batendo as botas. Abraço!

José Antônio Silva disse...

Valeu, Geraldo. Preciso ver o doc do Nino sobre o Plauto. Com certeza tem valor. Mas venho pensando numa coisa mais ampla e abrangente.
Abraço, amigo!