Mídia 2014 – Chorando para
não rir
José Antônio Silva
Imprensa brasileira atravessa
fase de completa esquizofrenia. Seus
setores de Esportes e
Marketing (hoje, praticamente uma coisa só) vivem explosão de investimentos,
megadivulgação, promoção dos jogos, jogadores (vida e obra), Felipão, comissão
técnica (o prato predileto do Murtosa, por exemplo), especialistas, etc – num
clima de euforia e indisfarçável “Vamos lá, Brasil - sil - sil”.
Já os editores de Política,
Geral, Economia, etc., têm ordem (expressa ou subentendida) de baixarem o pau
direto no Governo Federal, na Dilma, na inflação “fora de controle”, na corrupção
da Copa, nas obras que não ficaram prontas em tempo (sobre as que ficaram –
desmentindo-os - apenas silêncio ou cobertura discreta). Mostram detalhada e continuamente
as manifestações contra o evento (e as passeatas oportunas de sindicatos que
fazem suas greves, como a dos transportes, num momento chave).
A contradição não pára por
aí. A mídia tem imensos interesses econômicos objetivos na divulgação da Copa
do Mundo, seus jogos, seus “heróis”, mas têm, também, imensos interesses
políticos em continuar desconstituindo o governo petista. Então ela alterna –
às vezes em seqüência direta – uma matéria sobre a euforia de torcedores com outra
de militantes raivosos espumando de raiva contra a Copa e repetindo chavões
sobre “hospitais padrão Fifa”.
Dados gerais –
superinvestimentos na construção da infraestrutura em todo o país (inclusive
hospitais) – ou a explicação básica de que recursos para a educação e saúde,
por exemplo, não são prejudicados por obras da Copa - são esquecidos nestas
matérias.
Enfim: a imprensa tem que
fustigar o governo petista utilizando o mote da Copa, criando um clima de terra
arrasada. Mas praticamente ao mesmo tempo, ou no minuto seguinte, precisa
levantar o mesmo astral que ela ajudou a baixar, e logo passa a mostrar gente
sorrindo, vibrando com as possibilidades da Seleção, etc.
Como no teatro, os âncoras,
apresentadores e repórteres de TV afivelam – e arrancam no minuto seguinte - as
máscaras do riso e da dor, no show de interesses. Já pensou se sorriem num
momento “manifestação” e fecham a cara na hora de chamar uma especial com o
Neymar? Para desespero do anunciante ou da coordenação de campanha da oposição?!
Vida dura, gente.
Isso ainda vai dar motivo
para muitas teses universitárias – sem falar nos espaços políticos e nas
entidades profissionais - sobre o acesso de loucura e incoerência formal da
mídia brasileira em 2014. E, se nossa grande imprensa fosse realmente democrática,
esta cobertura poderia servir de mote para seus futuros programas humorísticos.
“Rindo para não chorar”. Ou, “Chorando
para não rir”. Mas, seja qualquer for a versão a predominar no país, a mídia
não perderá nada.
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