Quadrinho por quadrinho, oitenta anos de sindicalismo
e transformação social
José
Antônio Silva
A maestria formal das ilustrações que retratam a
Porto Alegre das primeiras décadas do século XX é, provavelmente, o que mais
desperta a atenção de quem tem nas mãos “Sindibancários – Uma História de Luta
em Quadrinhos”. Mas o registro gráfico preciso, a recuperação visual da capital
dos gaúchos e de alguns de seus principais personagens históricos, está, no
caso, a serviço de um conteúdo político. Como o nome indica, o primeiro volume
do livro em quadrinhos, lançado em maio último pelo Sindicato dos Bancários/RS,
recria três décadas cruciais para a categoria e para toda a organização dos
trabalhadores do RS e do Brasil, entre 1933 e 1963.
O roteiro bem costurado, de Paulo Cesar “Foguinho”
Teixeira, conduz o leitor tanto pelos movimentos iniciais que culminaram na criação
do Sindicato quanto pelos intrincados contextos político, histórico,
comportamental e cultural da época. Através do texto de Teixeira, do desenho de
Vasques, o leitor pode ver em panorâmica a construção do Viaduto Otávio Rocha
(muito mais conhecido como “Viaduto da Borges”), que até hoje traz orgulho aos
portoalegrenses.
Conquistas
A reunião de fundação do Sindicato (com ata assinada
no dia 18 de janeiro de 1933), assim como a primeira greve de bancários e
bancárias, um ano depois, estão no livro. Também conquistas cruciais dos
trabalhadores – como a criação da Justiça do Trabalho, do salário mínimo, da
CLT, das férias remuneradas, etc., promulgadas pelo então ditador Getúlio
Vargas - estão lá. Assim como a desconfiança dos bancários nas benesses vindas
de um governo autoritário.
Desfilam pelas páginas da HQ (em preto e branco, hachuras e aguadas de nanquim), além de Vargas e suas contradições, figuras como Jango Goulart, Leonel Brizola, Carlos “Corvo” Lacerda, o humorista e militante comunista Barão de Itararé, entre outros. Podemos ter uma ideia do panorama político conturbado do país, sempre ameaçado por conspiratas e golpes.
Rede da Legalidade
Esta história quadrinizada do Sindibancários, nos
seus 80 anos - inspirada no livro coletivo “Banco não dá bom dia”, de 2008,
fruto de oficina literária conduzida por Alcy Cheuiche – termina seu primeiro
volume com a volta de João Goulart ao poder. Teixeira e Edgar Vasques, para tanto, relatam
a tentativa golpista de 1961, frustrada pela ação corajosa do governador Leonel
Brizola e a sua “Rede da Legalidade”.
Mas, como está provado, a História não acabou. Nem na política nem nesta sintética versão quadrinizada. E já aguardamos o novo volume da obra, quando o sindicalismo – e seu contexto – sofrem longos 21 anos de perseguição, arbítrio e censura, assim como participam ativamente da redemocratização do país. Valorizando ainda mais esta obra, é importante lembrar que o Sindicato dos Bancários do RGS, em especial, ajudou a forjar lideranças políticas como Olívio Dutra e Tarso Genro, que seguem na luta por uma sociedade ainda mais igualitária e mais justa.
Ficha
técnica:
“SindBancários – 1933-1963 – Uma História de Luta em
Quadrinhos”
34 páginas
Roteiro: Paulo Cesar Teixeira
Ilustração: Edgar Vasques
Capa/Projeto gráfico: Fernando Jorge Uberti
Revisão: Daiane Cerezer
Editor: Moah Souza
3 comentários:
Acho muito importante mostrar a história - passo por passo - desta luta dos bancários e de outros trabalhadores, que décadas depois frutificou. Parabéns ao Paulo Teixeira e a você, por divulgar esta obra.
Não li e já gostei. Vou atrás de um exemplar pra mim.
Forte abraço!
Arthur
Valeu, Clovis e Arthur. O livro é bom mesmo. E vamos aguardar o segundo volume.
Abraços!
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