O esporte da
escrita
José Antônio Silva
São regras não oficiais, mas implícitos modos de convivência,
oferecimento e fruição entre autores e leitores. As formas curtas – contos,
poemas, boutades, crônicas, trocadilhos – precisam necessariamente ter densidade e tensão em
toda sua (pequena) duração, para cumprirem bem seu destino e seu papel. Afinal,
têm pouco tempo e pouco espaço para justificarem a própria existência.
Já as novelas e romances podem se dar ao luxo de enrolarem o
leitor por páginas e capítulos, mais ou menos frouxos, mais ou menos inspirados,
desde que o leit motiv, o enredo, os personagens ou o clima construído pelo
escritor capturem e hipnotizem sua vítima. Quando a estratagema do autor é bem
sucedida, leva o desavisado ou desavisada a prosseguir no estudo do calhamaço,
mesmo que coalhado de chavões, apesar de provocar alguns suspiros ou bocejos e
um vago desagrado.
Um tipo de escritor é acrobata nas argolas ou no cavalo-de-pau.
Tensão máxima, força, equilíbrio perfeito, elegância de movimentos e
encerramento sem passo em falso. Um erro apenas pode acabar com toda a peça.
O romancista, em sua raia, é o nadador olímpico de 200
metros, que pode amenizar o ritmo por um segundo, se compensar a quebra nas
voltas seguintes. Ou o corredor de longa distância, o maratonista que traça uma
estratégia de alternância, entre pique e economia de energia, negaceio,
aparente acomodação e conformismo na marcha do escalão intermediário até o surpreendente
sprint da reta final.
Literatura é como todo o resto. As metáforas só servem para
esconder – ou revelar – isso. E já é muito.
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