José Antônio Silva
Dizer que Nelson Madiba
Mandela foi um grande herói é muito justo, mas é pouco. Eu o comparo a outros
poucos homens de coragem, determinação inquebrantável e – o que nem todo o
herói possui, por melhores que sejam suas intenções – uma imensa tolerância.
Tolerância ao sofrimento que lhe impôs o racismo, os quase 30 anos de prisão, a
violência do isolamento, a doença que o abateu nos últimos anos. E tolerância
também com os que pensavam e agiam de modo injusto, discriminatório e
autoritário.
Mas sua tolerância, que
ninguém se engane, era equilibrada com a luta e a resistência – para não recuar
um só passo em suas convicções, conquistas e ações. Tinha consciência que se fizesse a luta
armada, mergulharia o país numa guerra civil com muitos milhares de mortos,
especialmente do lado mais fraco. E sabia que a justiça, em seu sentido maior e
essencial, estava com ele, e triunfaria. Mandela superou a divisão do país,
baseada no regime do “apartheid”, uniu a África do Sul e tornou-se o seu
presidente.
Coloco a figura de Mandela
junto a de Mohandas Gandhi, o pacifista que aplicou o princípio da
não-violência (Satyagraha) e da desobediência civil e conquistou, simplesmente, a independência da
Índia do domínio britânico. Também situo, em patamar semelhante, o líder
religioso norte-americano Martin Luther King, que emprestou sua força moral e
seu espírito visionário à luta contra a discriminação racial e às más condições
em que vivia grande parte da população negra nos EUA. Sua voz – e o seu sonho
–foram a inspiração das marchas pelos direitos civis. Assim, como Ghandi, ele morreu
assassinado. Mas pode-se dizer que sua luta teve sucesso – e hoje, com seus
erros e acertos, há um negro na presidência do país mais poderoso da Terra.
Imagine, em outra escala, que
não seria um exagero muito grande lembrar a figura do músico John Lennon nesta
galeria de militantes sociais da paz. Cada um a seu modo, eles provaram que é
possível que mudar a sociedade sem disparar um só tiro – mas dificilmente sem
recebê-lo.
Mandela, Ghandi e Luther King
mostraram ao mundo - branco e injusto -que a força moral, o senso de justiça e
a razão superior podem dobrar o poder bruto das armas e da iniqüidade. E essa
lição já não pode mais ser esquecida.
Nenhum comentário:
Postar um comentário