As reflexões de Dunga no Planeta Bola Quadrada
José Antônio Silva
Velho e duro volante da roça, Dunga entrou com as travas da chuteira na história do Brasil (apesar de se orgulhar, justificadamente, de sua mãe ser professora desta matéria e de geografia), na recente entrevista que concedeu sobre a lista de jogadores convocados à vestirem a camisa da seleção brasileira. Nosso campeão mundial de 1994 deve ter matado as aulas da mãe para quebrar umas canelas juvenis no campinho mais próximo, quando guri.
José Antônio Silva
Velho e duro volante da roça, Dunga entrou com as travas da chuteira na história do Brasil (apesar de se orgulhar, justificadamente, de sua mãe ser professora desta matéria e de geografia), na recente entrevista que concedeu sobre a lista de jogadores convocados à vestirem a camisa da seleção brasileira. Nosso campeão mundial de 1994 deve ter matado as aulas da mãe para quebrar umas canelas juvenis no campinho mais próximo, quando guri.
Emocionado com a própria facilidade e clareza de expressão - em meio a uma enxurrada de declarações sobre os motivos que o levaram a resgatar pernas-de-pau como Elano e Josué, ou ex-atletas como Gilberto Silva, e deixar num banco virtual e eterno os garotos da Vila (alô, Grêmio!) e Ronaldinho Gaúcho, por exemplo - o técnico canarinho piou: disse que não sabia se a ditadura militar brasileira, ou mesmo o período de escravidão, tinham sido ruins. “Afinal” – aqui ele justificou suas dúvidas – “eu não estava lá”.
Bom, eu também não estava lá na Alemanha Nazista, mas não deve ter sido nada agradável – a não ser para os arianos confirmados e militantes. Enfim, pode não ter sido ruim sobreviver num campo de concentração: quem sabe?
“Eu não estava lá”
Mas pensando bem, no caso da ditadura brasileira o Dunga “não estava lá”? Como assim? Ele nasceu em 1963, um ano antes do golpe militar. Mas em 1985, final da ditadura, ele tinha 22 anos. Nesse tempo todo de vida – mais de duas décadas – ele sequer tinha percebido que existia num país onde gente era presa sem culpa formada, onde alguns desapareciam para nunca mais, em que existia censura, tortura, bombas em Riocentros e coisas afins?
Se ele não estava “lá”, onde estaria? No Planeta Bola Quadrada, talvez?
Ok, ok, eu sei. È até covardia levar a sério e discutir a cultura geral do nosso inegavelmente esforçado Dunga. Mas o caso é que ele é uma figura pública e pisa na bola ao ficar falando com pompa e - vamos reconhecer – até com ironia, sobre temas complexos dos quais não tem a menor idéia. Como diria Nelson Rodrigues, discorreu com uma profundidade que uma formiguinha atravessaria com água pelas canelas.
Falando no mestre Rodrigues, cabe lembrar outra frase dele, segundo a qual a seleção brasileira de futebol é a pátria de chuteiras. Bom, figura de linguagem é uma coisa. A outra é que Dunga parece acreditar piamente nisso. E dê-lhe patriotadas e conclamação a que os seus gladiadores verde-amarelos destrocem quem se lhes fizer frente no campo. Campo? Campo de batalha!
Bom, a próxima Copa é na África do Sul. Lá, até recentemente, vigorava o “apartheid”. Será que foi ruim? Não sabemos – não estávamos lá.
Enfim, pode ser que Dunga seja bom em geografia.
(Aqui ao lado, brilhante colaboração enviada pelo Paulo Caruso: "Dunga Deprê").
2 comentários:
É, o Dunga nunca foi craque. Como treinador, já provou saber mais do q outros menos contestados, tanto que o Brasil se classificou antecipadamente nas eliminatórias para a Copa, derrotou o Uruguai e a Argentina 'lá', onde sabemos ser MUITO difícil vencê-los. Já como cidadão, está no mesmo patamar de outros profissionais, como se constata ouvindo rádio, lendo jornais, vendo TV... A diferença é que o Dunga não estudou, enquanto a maioria dos profissionais citados sim. O Dunga tem uma visão conservadora do mundo, como a esmagadora maioria dos profissionais citados. Devemos criticá-lo? Sim, por não levar Víctor e Ronaldinho. Os guris da Vila são bons? Sim, no Santos, não sabemos se renderiam na seleção a mesma coisa. Compará-los a Pelé, apenas pela idade, é desconhecer que o Rei aos 16 jogou contra a Argentina, no Maracanã, pela Copa Roca, e fez gol, numa defesa que tinha Delacha e Vairo na zaga e Carrizo, o maior goleiro argentino de todos os tempos. Estavam na seleção campeã do Sulamericano de 1959, contra o Brasil com Pelé, Garrincha, Didi, Nilton Santos, Zito...
Será que a comparação entre o Dunga e os profissionais da comunicação é mais descabida que a dos guris da Vila com Pelé?
Bolívar Gomes de Almeida
Zé Antônio, meu caro, ele não é o Dunga. É o Zangado!
Postar um comentário