Caçado e caçador
José Antônio Silva
Aos dez ou onze anos
cacei minha primeira gazela
- ou fui caçado
igual
por ela.
Tomei gosto
gosto de sangue
na mata
na trilha
no mangue.
Raro puxei o gatilho
apreciava a presa
viva e distante
à disposição
para a minha mesa.
E assim fui
de quando em quando
abatendo perdizes perdidas
eventuais
pouca carne
poucas vidas.
Nem sempre senhor:
errava o tiro e a flecha
aqui e ali
e matava sozinho
a própria dor.
Até que apareceu peça grande
cerquei campo
fui chegando
forte contra o vento:
hoje eu janto.
Ali me regalei
muito
e muito mais
até que a carne perdeu gosto
secou
ou me salgou demais.
Subi montes
de solidão gelada
e daquele posto
observava minúscula
a caça nos campos
ou no alto céu
- e virava o rosto.
Só ajustei a mira
ao voltar à planície
esturricada
e receber o tiro
doce tiro do olhar
da corsa esperada.
Negaceou
como quem vai
mas mirava em mim
as pupilas negras
e era desafio:
acertei em pleno
no alvo perfeito
- e em tempo de cio.
Agora
ainda viva
ela dança e escava
em busca de ar
corre e retorna
em círculo:
do que escapar?
É pouca a munição
e ela resfolega
fúria e instinto.
Mata e morro:
um daqui
já não sai vivo.
Setembro/2008
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Um comentário:
Dá-lhe, Zé!!
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