A certeza dos feiticeiros
Negros mestiços e índios
já invadem os palácios
quebrando portões eletrônicos
e os arsenais do futuro
Os guardas caem primeiro
vítimas da indecisão:
de quem eles são irmãos?
Os senhores querem a morte
sem lutar e sem saber:
morrem mesmo ou não passa
de uma nova embriaguês?
Há sangue pelas paredes
lanças explodem barrigas
bocas com sede:
liberdade para as vísceras!
Das gordas tripas expostas
abatem-se sobre os tapetes
grandes golfadas de bosta
Os índios saqueiam e gritam:
tudo é festa!
tudo é de novo floresta!
Em raios azuis estouram
as últimas invenções
da ciência aplicada
do requinte industrial
Na avenida central
tudo é simples como é:
hoje há morte e carnaval
Adeus aos vidros fumê
(põem fogo nos palácios)
querem cumê!
querem bebê!
Abrem adegas despensas
inutilizam os freezers
e jogam ao sol
(às moscas)
os velhos pernis resfriados
para quando viesse a crise
No aço dos corredores
a dança louca dos fados;
nas piscinas este é o dia
do banho dos afogados
Nativos tontos nas ruas
de arrebatamento e gozo
vestem roupas das senhoras
curradas mortas e nuas
Marcham para onde se esconde
o matagal derradeiro.
Era só questão de tempo
- a certeza dos feiticeiros.
Poema de José Antônio Silva, de 1986, musicado e gravado por Bebeto Alves no CD “Paisagem”, de 1999.
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Um comentário:
Grande Zé!
Nada como um post pra gente se encontrar.
Serei tua atenta e assídua leitora.
E vamos à luta!
Thaïs
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