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sábado, 28 de junho de 2008

Palpitando (1)

Quando as meninas vencem por nocaute


Em um canto do ringue, uma saia justa; no outro, um terno bem cortado. Forçando um pouco a mão na beligerância, assim poderíamos representar dois dos mais prestigiados talking shows da TV brasileira – o citado Saia Justa e o (já) veterano Manhatann Connection, ambos na GNT. Não que meninos (nos States) e meninas (aqui na pátria amada) briguem entre si, embora volta e meia troquem algumas farpas televisivas. Também não dá para chamar o Manhattan de Clube do Bolinha autêntico, já que inclui no seu time a Lúcia Guimarães, correndo por fora nas matérias “culturais”. Mas, grosso modo escrevendo, é possível fazer um comparativo dos dois programas. Afinal, em ambos a fórmula básica é a mesma: várias pessoas reunidas em frente às câmeras, discutindo tudo o que cair na web – quer dizer, na rede.

E é aí que a “âncora” Mônica Waldvogel e suas parceiras de barco Betty Lago, Maitê Porença e Márcia Tiburi dão de remo nos marmanjões atracados em Nova York. Lucas Mendes, Caio Blinder, Ricardo Amorim e Diogo Mainardi (mais a Lúcia) fazem um apanhado geral das coisas no mundo, nos Estados Unidos e no Brasil, claro. Tudo em termos de alta política, macroeconômica, tendências gerais. Enfim, legal até os limites da caretice – e talvez sejam estes os limites normais de nós, homens.


Já o Saia Justa, mesmo que de vez em quando todas falem ao mesmo tempo e em altos brados, é, como direi?, mais humano. Mais próximo do dia a dia de todos nós, não só das mulheres. Talvez as “saias” estejam mostrando com nitidez que a visão feminina do mundo é quase sempre mais integradora, mais “holística”. O Saia Justa discute sentimentos, para começar. Mas não para terminar: discute também ética e valores. Essas coisas, enfim, de que o nosso mundo e o nosso país estão cada vez mais carentes.


Corta para o Manhattan: os caras estão debatendo “real politik”, a crise imobiliária americana, os próximos movimentos dos States no Iraque, o crescimento da China. Tudo muito importante, sem dúvida. Mas é um chatérrimo ambiente masculino, onde quase tudo é sério e a Lúcia Guimarães, que não é boba, só de vez em quando arrisca um palpite.


E aqui abro um parênteses: o, vá lá, “humor” fica por conta do sarcasmo doentio e agressivo do Mainardi. Vale lembrar que aquela vaga específica de “polêmico” foi aberta, nos primórdios do programa - há distantes 15 anos! - com a inteligência, a ironia e a cultura de Paulo Francis. Verdade que com o tempo ele foi ficando mais e mais reacionário, mas mantinha suas tiradas de gênio. Ao morrer, a mesma cadeira foi esquentada por Arnaldo Jabor. Discípulo de Francis e de Nelson Rodrigues, o ex-cineasta também foi enveredando celeremente ao conservadoriso político, porém com sacadas criativas. Até chegarmos ao lodo do fundo do poço com o Mainardi. “Filho” de Jabor e “neto” de Francis, o rapaz é um especialista em falar mal de qualquer coisa que lembre esquerda. Até o microfone que ele usa deve estar estragado pelo ácido corrosivo do seu sarcasmo. Pode terminar lhe fazendo mal. Quem duvidar que Veja.


Por isso tudo, voltemos correndo para o Saia Justa. Lá, só tem mulher bonita. Mais: inteligentes e bem humoradas, na média. E nenhuma é reacionária. O que varia é o nível de cultura e informação, o que dá dinamismo ao programa. Já pensou se todas tivessem as horas de leitura filosófica de La Tiburi? Não seria um talk show, e sim um seminário de pós-doutorandas.


Para terminar: o SJ já contou, nestes seus seis anos, com grandes participantes em outras edições, mas considero a formação anterior a melhor de todas.


E tinha ainda o sorriso da Soninha.

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