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terça-feira, 2 de agosto de 2011

MPB





“Filhos de João”: Novos Baianos criando em estado de sítio

José Antônio Silva

Ingenuidade ou pureza “primitivista”, naïf, ao lado de alguma malícia moleque, malandra. Tudo devidamente aproveitado e amplamente justificado, em seus melhores aspectos, por raro talento coletivo. Bem dizer: talentos individuais entre médios e muito bons, que em conjunto, no entanto, geraram um resultado excepcional, agitação musical e comportamental, renovação da tradicional música brasileira através de uma pegada pop, até genialidade nos momentos mais inspirados. Falo dos Novos Baianos, banda-tribo que criou e percorreu seu próprio trilho, sua própria trilha sonora e épica, que não por acaso se tornou um dos hinos de ao menos uma geração, nos início dos anos 70.

“Preta Pretinha”, “Lá vem o Brasil, descendo a ladeira”, “Acabou chorare”, entre outras canções, abriram uma inesperada janela de cor e luz no cinza dominante da ditadura de então. Não eram comunistas (os militares percebiam), mas também não eram inofensivos (os milicos intuíam). Eram anárquicos, eram hippies, eram contraculturais à moda tropical – eram livres. E liberdade era tudo o que o regime militar não tolerava.

Futebol musical
Mas de algum modo tolerou os cabeludos barbudos, alegres, dionisíacos e futebolísticos jovens músicos de Salvador, e sua vida comunitária. Liberdade vigiada, bem entendido: no belo documentário “Os filhos de João”, do cineasta Henrique Dantas, que estreou recentemente (embora tenha demorado 13 anos para ser concluído...), Moraes Moreira diz que a vida no sítio que alugaram em Jacarepaguá (RJ), não deixava de ser “um exílio dentro do Brasil”. Mais e melhor sacada do compositor: “Vivíamos em estado de sítio”. E volta e meia os cabeludos iam em cana, para dar explicações sobre isso ou aquilo.

No entanto, Moraes, o letrista Galvão, Pepeu, Baby Consuelo, Paulinho Boca de Cantor, Jorginho Gomes, Baixinho, Dadi, Bola e demais membros da comunidade musical/existencial conseguiram levar adiante seu trabalho. Entre o início da banda em Salvador, em 1969, e as vidas comunitárias no Rio de Janeiro, em Jacarepaguá e em São Paulo, com o tempo foram acontecendo as defecções, rusgas, afastamentos, filhos nascendo, núcleos familiares se isolando, até o termino, no final dos 70.

Alienação provocadora
Nesse meio tempo, foram oito LPs e centenas de shows. Afinal, não eram artistas que criticavam o quadro político do país de forma tão clara, como a geração que os antecedia diretamente (Chico, Caetano, Gil, Vandré, Milton, Elis, etc.). E sua alegria e despojamento podiam ser facilmente confundidas com alienação política. E de certa forma era. Mas só de certa forma. Porque andar de cabelos longos, barba, roupas fora do padrão bem comportado, exibir um jeito livre e despreocupado de ser já era uma autêntica provocação às autoridades fardadas e seus apoiadores civis, que sonhavam ver o Brasil marchando em ordem unida, cabelos curtos e idéias idem, em nome de Deus (mas sem nenhum toque de amor ou generosidade, por exemplo), da Família e, em especial, da Propriedade.

Mas não é bem disso que trata “Os filhos de João” – que ganhou este nome a partir das assumida, por eles mesmos, dependência da música e da orientação do mestre João Gilberto. Afinal, foi o cantor do pioneiro violão bossanovista e do canto contido e exato que (re)apresentou aos garotos cabeludos - e até então essencialmente roqueiros - a riqueza dos velhos sambas, choros e outros gêneros tradicionais do Brasil. O que foi o toque fundamental para que os Novos Baianos gerassem sua própria alquimia musical.

Em ritmo ágil, o documentário é enriquecido por muitos trechos de filmes, vídeos e fotos da época, além dos depoimentos de hoje. E mostra que estes senhores maduros de hoje, em essência, continuam iguais aos jovens baianos dos anos 70, que só queriam paz, amor, música e futebol.

Enquanto corria a barca
Trata-se de uma viagem ao passado empreendida pelos velhos novos baianos, que refletem sobra sua vida e sua obra durante os quase dez anos que o grupo durou – enquanto corria a barca. Nunca se viu antes ou depois uma comunidade como aquela. Provavelmente, com os Mutantes e os Secos & Molhados, formem a tríade mais criativa das bandas pop que explodiram no Brasil naqueles anos. No filme, Tom Zé é o fio narrador (e interpretador) da trajetória dos Novos Baianos.

Infelizmente, Baby não autorizou, na edição final do documentário, o uso da entrevista que tinha concedido aos realizadores. Musa da banda e à época mulher do guitarrista Pepeu Gomes, Baby costumava ler trechos da Bíblia, para os malucos jogados nas almofadas à sua volta. Hoje é evangélica ortodoxa. Mas “Filhos de João” revela que também a sua Bíblia inteira, impressa em fino papel de seda, se esfumou na comunidade, folha a folha, ao longo de poucos meses. Isso baseado no fato – como cantaria Pepeu, alguns anos depois – que você pode fazer quase tudo. E eles fizeram.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Cultura




Amy, no caminho da linha invisível

José Antônio Silva





Há uma linha invisível, e no entanto tão concreta, ligando alguns dos maiores talentos do rock, do blues/jazz, do pop, à atração fatal dos excessos. Agora foi a vez da extraordinária Amy Winehouse. Custou a vida dela e deles, mas para nós não custa muito lembrar e citar alguns: Jimi Hendrix, Janis Joplin, Brian Jones, Kurt Cobain, Jim Morrison, ou mesmo o já então decadente Elvis Presley. E - por que não? – Michael Jackson. Não ficamos muito atrás, em terras brasileiras: Raul Seixas, Cazuza, Cássia Eller, Renato Russo (alguns saltaram a tempo da barca do velho Caronte e voltaram a nado para a praia, esgotados mas vivos, como Ângela Ro Ro. Ou Eric Clapton, depois de várias internações hospitalares, ao longo dos anos, em decorrência da heroína, bebida, acidentes de carro...).

Não que todos os citados tenham morrido diretamente por overdose de drogas ou álcool. Mas de certo modo estavam depauperados física, emocional e psicologicamente ao abandonarem este mundo cruel, por doenças ou suicídio formal (Cobain). Mesmo a aids – mortal nos anos 80 e 90 – inseria-se então num quadro existencial de descontrole comportamental (“exagerado, eu sou mesmo exagerado”, cantou um dia, confessionalmente, Cazuza).

Paraíso e inferno
Drogas e álcool eram, e são, paraíso e inferno, euforia e depressão – uma rima mas não uma solução. Questão de dose, de intermináveis doses. Estes grandes artistas, alta sensibilidade, brilharam intensamente por períodos relativamente curtos, para morrerem ainda jovens.

A britânica de origem judaica Amy Winehouse, todos sabem, tinha voz privilegiada e cantava visceralmente – assim como a americana, ainda maior, Janis Joplin. Ambas influenciadas pelas grandes divas do jazz, como Ella Fitzgerald, sintonizadas com o espírito do blues, com cuja dor se identificavam. Mas Amy, aos 27 aninhos de idade (a tal “maldição dos 27”), perdera o corpo exuberante do início da carreira, pelo menos um dente, o viço da juventude e o rumo na vida. Mesmo a divina música, muitas vezes ela já não conseguia cantar.

Tragédias que hoje de alguma maneira já são até esperadas, no universo onde brilham os astros do pop. Como se fosse natural apoiarem-se nesta bengala de madeira podre para continuar subindo aos palcos.

Talvez se mirem no exemplo fora do comum de Keith Richards, ícone do rock n’ roll, 67 anos de idade e uma cara de pergaminho egípcio. Diz ele que largou a heroína no final dos anos 70, e a cocaína em 2006. Cheio de marra, desafia: “Meu corpo é meu templo. Ninguém vai me dizer o que fazer com ele!”.

Igrejas frágeis
O grande problema dos demais astros, consumidos até a morte neste caminho, é que seus corpos eram igrejas frágeis. Ao que parece, para seguir adiante e envelhecer orgulhoso de suas cicatrizes e seu estilo, só mesmo contando com a simpatia pelo e do demônio.

domingo, 10 de julho de 2011

Cultura

O humor estuprador em crise de identidade


José Antônio Silva


Rafinha (“Estuprador do Humor”) Bastos é apenas uma consequência. E um exemplo do humor que ainda viceja absoluto - e absolutamente destituído de qualquer sentido ético, como se isso representasse uma grande conquista – em algumas mídias do Brasil. Coincidentemente, ele encarna um estilo que vem dos anos 80, no rastro do neoliberalismo, que da Inglaterra tatcheriana e dos States de Reagan, espalhou-se como erva nociva pelo mundo afora. De modo similar aos oportunistas e exploradores que seguem os exércitos invasores, os humoristas do vale-tudo substituíram as gerações de cartunistas e comediantes que se fizeram no enfrentamento da Ditadura ou em outras esferas, como a crítica ao reacionarismo comportamental. A lógica vitoriosa parecia ser a do “metralhadora giratória” - nada era ou é sagrado. Mas só parecia.


Os teóricos do Consenso de Washington não fariam melhor: desregulamentar tudo, mas tudo mesmo, em nome da suprema “liberdade” econômica, transposta para a crônica social de feição humorística. Afinal, os pobres só o eram por sua própria culpa, e não mereciam apoio, misericórdia ou condições sociais e econômicas adequadas – eles que fossem à luta ou morressem. Competitividade era/é tudo.


A lei de quem pode mais

Assim, de uma hora para outra, o humorismo brasileiro surgido pós-redemocratização do país, regrediu à lei do mais forte, do mais rico, do quem pode mais. O Casseta & Planeta, apesar de alguns méritos, foi “revolucionário” e paradigmático nesse sentido. Sem-terra, morrendo de doenças e abandono em acampamento à beira de estradas, ou assassinados por jagunços ou policiais? Sarro neles! Negros, vítimas seculares da escravidão, discriminação e racismo? Gozação neles! Mulheres (“o negro do mundo”, segundo Yoko Ono), violentadas ao prazer do machismo? Piada imbecil nelas: as feias estupradas – como divertiu-se Rafinha Bastos em seu talkshow - deveriam agradecer aos estupradores a oportunidade de sexo. Ah, sim: as vítimas destes petardos, se ousarem reclamar, são taxadas de censoras que ameaçam o sagrado direito de... de quê mesmo?


Este humor – quando quer mostrar que é imparcial, ou tem conteúdo – bate nos políticos. Como se houvesse mérito em atacar cachorro morto, no sentido da moralidade chavão da mediania brasileira, para quem “todo político é ladrão, todo político é igual”. Seria interessante – e fica o desafio - ver esta coragem e independência toda de CQCs e assemelhados fazendo gracinhas com o grande empresariado corrupto e corruptor, com os conglomerados de comunicação e suas negociatas, com os setores poderosos e conservadores que não acham graça nenhuma em rever processos e levar a julgamento torturadores e outros arbitrários. (Aliás, na Argentina - de onde vem o programa original, macaqueado pelos brasileiros - os artistas e humoristas costumam dizer a que vêm).


Número de acessos”

Mas estes humoristas - das piadas de péssimo gosto com mulheres estupradas, com negros humilhados e judeus que sobreviveram a campos de concentração – têm lá seus bons motivos. Afinal, todo o humor se alimenta de preconceitos e estereótipos. E sendo assim, anula-se qualquer sentido de justiça, cidadania, direitos humanos e outras coisas mais. Em seu lugar, pragmaticamente, passam a valer apenas a busca do riso a qualquer custo, a audiência, o dinheiro na caixinha, o “número de acessos”.


Valeria lembrar que para os rebeldes sem causa e sem rebeldia do humor cequecista poderem desfrutar hoje da liberdade de ofender e humilhar sistematicamente alguns dos setores mais frágeis da sociedade brasileira, foi preciso que muita gente (inclusive destes mesmos setores) dessem suas vidas, perdessem seus empregos, suas carreiras e sonhos, suas casas, suas famílias e identidades.


Quem apanha não esquece

Vá que eles não saibam, o humor não é anódino, inodoro e insípido. É uma arma que faz vítimas. E não vale mais dar o tapa brutal e depois correr para debaixo da saia da liberdade de expressão ou do poder midiático e dizer que só estava brincando. Quem bate, logo parte alegremente para outra. Quem apanha, porém, não esquece. O neoliberalismo continua a fazer água (alô, Grécia!), e o mundo vem mudando. Alguns não perceberam, mas esse caminho está cada vez menos engraçado.



domingo, 3 de julho de 2011

Balaiada Hightech - X

A marchar


José Antônio Silva



Marchando com a escola na Semana da Pátria – meus oito anos...



Marchando no pátio do quartel, em ordem unida – meus dezoito anos...



Marchando marchinhas no baile de Momo – meus vinte e oito anos...



Marchando a cavalo, Mangalarga Marchador – meus trinta e oito anos....



Marchando de ré na carreira, em desemprego – meus quarenta e oito anos...



Marchando imóvel no caixão: a Marcha Fúnebre dos meus oitenta e oito anos....



quinta-feira, 30 de junho de 2011

Balaiada Hightech - IX

Manchetes que nunca vamos ler

José Antônio Silva



1. Celebridade confessa: "Gente, eu devo tudo aos paparazzi"


2. Dr. Pitanguy: "Me aposentei porque já não aguentava mais repuxar e costurar tanta pelanca"


3. Comandante dos Bombeiros admite: “Quero ver o circo pegar fogo!”


4. Industrial reconhece: “Sonego, faço cartel e superfaturo. Ainda bem que a mídia só denuncia os políticos”


5. Atriz global desabafa: “Este papel que o Maneco escreveu para mim é uma bosta!”


6. Jogador de futebol: “Saio correndo do estádio para pegar uma retrospectiva do Bergman ou do Kiarostami"

7. Empreiteiro: “Só concluo obra depois de três reajustes de preço”


8. Escritor: “Sou melhor que o Saramago, mas os críticos são cegos”


9. Deputado esclarece: “Pessoal, este mandato é a minha chance de tirar o pé do barro”

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Política

Tarso Genro e a direita atrasada

“Uma parte da direita, no Brasil e no RS, ainda mantém uma visão meio burra e atrasada: acham que governantes de esquerda afastam o empresariado. É o contrário: quem tem credibilidade para falar é quem tem condições de manter um diálogo social ampliado, com inclusão social. Isso é que deu prestígio ao Lula e dá prestígio ao nosso governo.

Empresário não quer saber se governo é de direita ou esquerda: querem é que haja estabilidade social e para os contratos. O importante para a população é se inserir na sociedade de mercado, mas levando consigo os direitos conquistados”. Tarso Genro, em Lisboa, num balanço de sua viagem internacional ao repórter Guilherme Gomes, para a Rádio e TV Piratini.


(José Antônio Silva, pela transcrição)

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Convidado especial

Vida offshore

João César Simch da Silva


Flap, flap, flap, o helicóptero decola do continente rumo à plataforma de exploração de petróleo. Duas turbinas, 12 passageiros, 250m de altitude, 220 km por hora. Após uma hora de vôo, em média, chega-se à sonda, que é como se denomina a plataforma de perfuração de poços de petróleo no jargão técnico. Após uma preleção de segurança, cada um se encaminha para seu camarote, para se instalar, trocar de roupa e iniciar o trabalho. Essas sondas trabalham em média com 120 pessoas a bordo, 24h por dia. Cada trabalhador tem um back (backup), um colega com o qual divide o trabalho diário, em turnos de 12 horas. No caso dos técnicos de nível superior da Petrobras (BR), geólogos, geofísicos e engenheiros, trabalha-se na exploração em sondas estrangeiras, contratadas pela Petrobras, com turmas de trabalhadores brasileiros.

Confinamento
Para os técnicos da empresa, os camarotes em geral são bons, a comida é boa e há uma academia de ginástica bem equipada para se exercitar. Pode-se também caminhar ao ar livre no helideck, espaço destinado ao pouso e decolagem dos helicópteros. Passa-se a maior parte do tempo confinado, seja no casario onde ficam os camarotes, refeitório e escritórios, ou nas unidades de perfilagem e acompanhamento da perfuração, espécies de containeres distribuídas na área externa da plataforma. É uma vida estressante que não é recomendada a ninguém: além de passar 14 dias longe da família e da civilização, passa-se confinado este tempo com pessoas com as quais pode não se ter nenhuma afinidade ou simpatia, e mesmo assim ter que conviver e compartilhar espaços e atividades todos os dias.

Com o trabalho continuado ao longo dos anos, chega-se ao absurdo de conviver mais tempo com essas pessoas estranhas do que com seus próprios entes queridos! Mesmo porque em casa não se passa 24 horas por dia com a mulher e os filhos, que trabalham, estudam, enfim têm suas atividades particulares. A única vantagem verdadeira deste tipo de trabalho são as folgas. Na função de geólogo de acompanhamento de poços exploratórios (well site geologist) na Petrobras, por exemplo, após 14 dias consecutivos embarcado, tem-se o direito a 21 dias de folga. Então, pode-se gozar um período de merecido descanso, em casa, curtindo a família e exercitando qualquer ócio, de preferência criativo. Mas não se iluda, trata-se de uma espécie de pacto com o diabo: ganha-se relativamente bem, tem-se direito às folgas, mas termina por se acostumar com essa rotina. Então não se consegue mais mudar e voltar para uma rotina normal, de sair para trabalhar de manhã e voltar só à noite para casa.

Passagem do tempo
Outra coisa é a passagem do tempo. Passa-se a contar o tempo em quinzenas, e nessa rotina parece que o tempo passa mais rápido, e junto com esse tempo sua vida vai passando junto. Além disso, os riscos envolvidos são elevados. Primeiro, o trabalho é feito continuamente sobre muita pressão. Afinal, um poço exploratório no pré-sal, por exemplo, custa na faixa de U$ 100 milhões, tornando a cobrança sobre o trabalho dos técnicos muito grande. Somando-se aos perigos inerentes à exploração de petróleo em alto-mar, como erupções e possíveis explosões do poço (blowout), desestabilização da plataforma, do risco dos vôos de helicóptero, há o risco de exposição às doenças e aos problemas que afetam a maioria dos petroleiros.

Entre as diversas doenças, pode-se citar, por exemplo, doenças alérgicas, funcionais, psicológicas, da coluna, ganho de peso, alcoolismo e etc. Qualquer moléstia que porventura se adquira, gripe, infecções e etc., desenvolve-se muito rapidamente quando se está embarcado, porque há uma queda no sistema imunológico do indivíduo, resultante de uma série de fatores: o trabalho sob stress diminui a imunidade; os alimentos são todos congelados e não possuem a quantidade integral de nutrientes; a qualidade do repouso é inferior ao seu repouso em casa, piorando quando se trabalha no turno da noite; fica-se muito pouco tempo exposto ao sol, pois se trabalha confinado; o ambiente confinado é muito seco e o sistema de ventilação não é limpo adequada e regularmente, contribuindo para a presença de pó, ácaros e etc.

Come-se muito também quando se está embarcado. Afinal é a única alegria que se tem! A comida é farta e em geral muito boa. Na tentativa de minimizar esses fatores negativos, tenta-se comer mais frutas e verduras, consumir vitaminas, caminhar e exercitar-se ao ar livre quando possível, beber bastante água, dormir cedo e etc.

Vida social
Somando-se aos problemas citados, a vida social de quem trabalha embarcado vai pras cucuias. Não existe domingo, feriadão, aniversário dos filhos, da esposa, de casamento, carnaval, páscoa, natal, ano-novo e etc.! Se você é escalado para o trabalho, torna-se necessária sua presença, não importando que data do ano seja. Um suporte familiar equilibrado é tudo nessa vida! Mas nem sempre isso é possível. O reflexo disso é outro problema muito comum que aflige o embarcado: a separação conjugal precoce.

No caso dos geólogos, é pior ainda: não têm escala de trabalho definida, embarcando apenas na fase de aquisição dos dados geológicos do poço, para a qual não há previsibilidade certa. E quando a atividade de exploração está em alta, como ocorre atualmente, as folgas se reduzem a apenas 10 dias em média! O petroleiro é antes de tudo um forte!

O melhor dia
Finalmente, o melhor dia do trabalho embarcado é o dia do desembarque! Quando se desce no aeroporto após uma quinzena de trabalho, sente-se com se estivesse tirando um enorme fardo de cima dos ombros. A certeza do dever cumprido conforta particularmente, mas o alívio só é completo mesmo quando se chega em casa.

Verdadeiramente não é fácil. Mas alguém tem que fazer o serviço pesado, não é mesmo?