Meu deus dos
sábados
José Antônio Silva
O deus dos
meus sábados é um bebê encaracolado
com o andar
trôpego
e a
segurança dos ingênuos iluminados
à beira da
queda
Arrasta pela
mão
uma fieira de
penas sem fim
um cocar com
milhares de
plumas cinzentas
(a única
colorida
é a que leva
entre os dedos
com o cordão
que a todas prende)
Quando
lembro
no entanto
de um sábado
qualquer
enrodilhado
nas voltas do cocar
ele recupera
o viço
a cor
o latejar
a vibração
Aquela dança
- o corpo
teso -
contra o arredondamento
da maciez
Cuba que nos libertava
dos medos
dividida em
bicadas
entre os
amigos e suas espinhas
O jogo de
bola
em que fui
lançado
por um ombro
adversário
para a vala
d’água
que congelou
o momento
A madrugada
paranóica
um tijolo em
cada mão
pela margem
da vida e da morte
como um
louco
O flagrante
da vidraça
partida
sobre a cama
e os gritos
de sangue
arranhando
seu nome
trincando o
que restava da noite
As sete
vezes
em uma
no leito da
despedida
de uma
determinada
e possível
vida
Os risos discretos
cobrindo o frio
do nunca
mais
entre flores
e rezas
de mármore
Meu deus dos
sábados
este bebê
eterno
abre seus
dedinhos pagãos
largando no
abismo
o rabicho
das penas
e uma
risadinha:
viva!
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