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terça-feira, 16 de abril de 2013

Poetando


Meu deus dos sábados

José Antônio Silva

O deus dos meus sábados é um bebê encaracolado
com o andar trôpego
e a segurança dos ingênuos iluminados
à beira da queda

Arrasta pela mão
uma fieira de penas sem fim
um cocar com
milhares de plumas cinzentas
(a única colorida
é a que leva entre os dedos
com o cordão que a todas prende)

Quando lembro
no entanto
de um sábado qualquer
enrodilhado nas voltas do cocar
ele recupera o viço
a cor
o latejar
a vibração

Aquela dança
- o corpo teso -
contra o arredondamento da maciez

Cuba  que nos libertava
dos medos
dividida em bicadas
entre os amigos e suas espinhas

O jogo de bola
em que fui lançado
por um ombro adversário
para a vala d’água
que congelou o momento

A madrugada paranóica
um tijolo em cada mão
pela margem da vida e da morte
como um louco

O flagrante da vidraça
partida sobre a cama
e os gritos de sangue
arranhando seu nome
trincando o que restava da noite

As sete vezes
em uma
no leito da despedida
de uma determinada
e possível
vida

Os risos discretos cobrindo o frio
do nunca mais
entre flores e rezas
de mármore

Meu deus dos sábados
este bebê eterno
abre seus dedinhos pagãos
largando no abismo
o rabicho das penas
e uma risadinha:
viva!

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