Campanha de Serra: repulsiva, assustadora, interessante
José Antônio Silva
A série de calúnias e baixarias contra Dilma Roussef, que vem sendo despejadas - como sacos de lixo que caem do caminhão da mídia e de outros – sobre o eleitorado, é repulsiva e até assustadora. Mas tem aspectos interessantes. Repulsiva pois não conhece qualquer limite ético, ao inventar mentiras escabrosas, distorcer fatos e declarações, forçar ilações, baratear em nível rasteiro e rápido debates complexos (como a questão do aborto), e jogar esta porcaria toda sobre a cabeça das pessoas, com frases de efeito.
É também assustadora, a atual série de baixarias, pois nos mostra até que ponto podem ir os setores conservadores e reacionários do país, capitaneados – como artífices, estrategistas e cérebros da oposição à Lula, ao PT e, agora, à Dilma, - pelos órgãos de comunicação de massa. Os mais facilmente identificáveis atendem pelos nomes de Veja (Ed. Abril), Estadão, Folha de S. Paulo, Rede Globo...
Chacais no deserto
A coisa é interessante - para observadores, jornalistas, cientistas e analistas políticos -, como seria interessante observar o ataque articulado, conjunto e impiedoso de chacais contra quem se aventura no deserto, no caso o deserto inóspito de uma Eleição Presidencial. Melhor dizendo, de uma eleição que, desde o advento de Lula, sempre vem opondo dois projetos distintos e claros. Um, agora encarnado em Dilma, que quer manter o crescimento do país com geração de empregos e divisão de renda, com jovens pobres e pretos na universidade; e o outro – com Serra - que faz o antiquíssimo jogo da casa grande e da senzala.
Segue sendo interessante notar como o presidenciável que vem ajuntando toda a direita ao seu redor, foi oriundo do movimento estudantil contra a ditadura (assim como Dilma), foi exilado (como ela)... Mas a partir daí, escorregou para a intimidade com os poderosos (incluindo as viúvas da ditadura), o neoliberalismo, a privataria e as negociatas com o poder, movimentos deflagrados pelo impichado Collor e alavancados, historicamente, pelo guru de Serra, Fernando Henrique Cardoso (autor de “esqueçam tudo o que eu escrevi”).
Já Dilma manteve sua coerência, conservando-se ao lado das grandes massas injustiçadas e segregadas do país. Sem ficar presa ao passado (aliás, onde ficou presa foi na cadeia da ditadura, sendo torturada), avançou, trocando a opção sessentista/setentista da luta armada pelo voto, a democracia plena, a conscientização popular.
Enfeite do bolo
Para a candidatura Serra, sabemos todos os que viveram os anos do PSDB no governo, “políticas sociais” não passam de um enfeite, a cereja do bolo, daquele bolo que os mais pobres nunca recebiam uma fatia. O cerne ideológico do grupo que se opõe à Dilma é formado por monetaristas e homens de fé verdadeira – fé na “Mão Invisível do Mercado”, que tudo regularia, e que colocou Estados Unidos, Europa e praticamente o mundo todo numa terrível depressão. (Depressão, aliás, da qual o Brasil escapou graças às políticas sensatas do governo Lula).
Nesta linha da fé, continua interessante verificar (mas tape o nariz!) como Serra tem ajoelhado e rezado no altar da hipocrisia. Ele apela para os aspectos mais obscurantistas da nossa sociedade – como o fanatismo religioso – disparando orações junto a seitas reacionárias, preconceituosas e/ou profundamente ignorantes, que julgam ter canal direto com Deus.
Não é difícil imaginar que ao sair de uma cerimônia dessas, ele deve (aí sim!) reassumir sua verdadeira e arrogante personalidade, tomar um banho a rigor, esfregando-se com fúria para se ver livre do cheiro do povo. Pronto, arrumado e perfumado, “Zé” irá beber seu sagrado uísque, jantando no melhor restaurante dos Jardins, junto com a elite elitista que o apóia, brindando ao pretendido avanço do retrocesso. Interessante mesmo, não?
Mas mais interessante que tudo isso, será ver o resultado das urnas, dia 31 de outubro, quando ele cair do cavalo – junto com os poderosíssimos interesses que representa. Já estou esperando, penalizado, pela cara abatida de William Bonner, anunciando que o Brasil, pela primeira vez na história, tem uma presidenta.
Não dá para perder.
Um comentário:
Que todos os deuses te ouçam.
Pois a caçamba de lixo em forma de notícias, o eletrônico e as hordas inquisitivas das igrejas conseguem munição junto a uma população pobre de cultura política e de memória breve.
Treze abraços.
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