O sentimento das coisas – 1
José Antônio Silva
Inferno – O inferno são os outros, mas nós não somos o paraíso de nós mesmos.
Comédia – Interferência artístico/terapêutica de alienação existencial, através de uma sucessão de gargalhadas histéricas.
Tragédia – A vida num ambiente de eterna penumbra, onde nunca se abre uma janela que traga ar puro e a luz do sol.
Alegria – Uma linda jovem sorridente que corre pelos campos atraindo os incautos, encantados...
e Tristeza - Quando nos prostramos frente à ela, sentimos a flecha da morte atravessando o coração.
Drama – A casa pega fogo e você escapa pela última janela, com ferimentos leves. Mas jamais vai esquecer os gritos e lamentos dos que não conseguiram.
Esperança – A certeza de que finalmente nosso motor de popa vá pegar - na próxima tentativa – antes do barco ser arrastado cachoeira abaixo. Às vezes pega, o que garante existência eterna e sempre renovada a este sentimento, enquanto os homens morrem.
Pânico – Paralisação da mente e do corpo: imobilidade frente ao cão feroz. Ou fuga desgovernada, sem traço de vergonha, dignidade ou prurido, enquanto o estádio lotado o observa.
Palavras – Escadas e pontes que nos levam até a próxima ilha, onde confraternizamos num breve tempo, enquanto ruge a tempestade da solidão. Em desespero, vamos lançando mais e mais palavras. A maioria cai no oceano e nunca mais é ouvida.
Paradoxo – Você sonha que está ajudando alguém em perigo; este se volta contra você. Uma multidão o espanca. Você não acorda.
Ódio – Imenso bloco de mármore negro, imóvel, no meio do único caminho. E agora?
.......................................
Proto-conto
Sujeito bebe como quem desce um barranco: a cada gole – ou passo – está um ou dois metros mais para baixo, mais para o fundo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário