A mancha gráfica do poema
O poeta e crítico Ronald Augusto sugeriu, pertinente, que eu publicasse em Lavralivre nosso rápido diálogo eletrônico - sobre poesia, claro. Uma raciocinada light, mas embalada pela visão límpida do cego Jorge Luiz Borges.
R. A. - A afirmativa de Borges segundo a qual “Para além de seu ritmo, a forma tipográfica do versículo serve para anunciar ao leitor que a emoção poética, não a informação ou o raciocínio, é o que o espera”, reforça de maneira indireta a idéia de que a mancha gráfica do poema na página já é, por si só, informação estética; já diz algo. Ruído do não-verbal no interior do verbal.
Essa relação dialética e não-excludente entre a tradição e a experimentação, sugere um aproveitamento de elementos não-verbais ou icônicos sem que, necessariamente, isto implique um rompimento com os modelos consagrados do discurso verbal.
J.A.S. - Isso me parece verdadeiro. E creio que é um elemento visível, talvez uma pista, de uma condição da obra de arte - a de ser sempre, em algum nível até inconsciente, "subversiva", apesar de si mesma.
Há como que um aviso ao leitor de poesia: aqui as regras são outras (ou vão além da informação e do raciocínio). Entre no jogo ou caia fora.
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sem poema
José Antônio Silva
ursos polares
sem pólos gelados
crianças sem comida
por todos os lados
mulheres sem voz
das arábias
velhos sem palavras
sábias
mendigos sem casa
nas capitais
cargueiros sem partir
dos cais
índios sem terra
e nação
gansos voando
sem direção.
mares sem águas
puras
vegetação sem cor
na planura
arco sem a sua
flecha
circulo que já
não fecha.
vida sem ser
por inteiro:
tudo que ainda
resiste
será devorado
a seu tempo
pelo dinheiro.
6 comentários:
Que maravilha de poema!!!
Vou postar no meu blog www.ratoqri,blospot.com
Posso?
Claro, Duá!
Obrigado pelo elogio.
abraço do mano
Zé Antônio
Amei o poema, muito bonito, assim como as crônicas que também li! ;*
Obrigado, Laís, por tuas palavras e tua sensibilidade.
Abraço!
Zé Antônio
grande diálogo, nobre colega! rsrsrsr
abração!
Certamente, preclaro Ronald!
hehehe
abraço!
Zé Antônio
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