José Antônio Silva
Somos duas ilhas selvagens e separadas por larguíssimo riomar, de canal profundo e correntes violentas.
Em nós vivem desde sempre macacos guinchadores e onças pintadas, palmeiras, avencas, cipós entrançados, ipês do mato, coqueiros e samambaias. Calor e umidade. Aqui zanzam insetos e zunem marimbondos. Pássaros cantam suas histórias.
Há lodo no solo, por onde deslizam víboras e cobras d’água. Roedores disputam bagas pelo solo, para deleite dos predadores.
Tudo isso é a nossa forma de silêncio.
Um afloramento de rochas, isolado, mina sua água sã. Um igarapé nos atravessa, e são poucas as clareiras.
O solo quase não conhece o sol.
Nossas praias são estreitas, e a areia branca e fina circunda um mundo verde e vital. Náufragos, nós os devoramos.
Nossa lógica é a da natureza. Nossa religião é a natureza.
As noites são nosso espetáculo de estrelas, eternidade e sinais que não entendemos - aceitamos.
Quando o vento do mar chega mais forte, sacode nossas vegetações – e assim nos abanamos mutuamente, de cada ilha. Por vezes, nos arranca pelo pé e nos destrói, para renascermos.
Lava-nos a chuva forte das monções.
Algum galho podre ou coco vadio é quem realiza a travessia aquática. Peixes são senhores e vítimas, entre si.
Vivemos nossa mata cerrada, pulsante, inferno e paraíso, clarão e sombra.
E é tudo.
5 comentários:
Belíssimo poema!Abs.
Bacana, Zé. Alguns trechos lembram aquele teu poema para a gravura, talvez apenas associação minha. Uma bela prosa poética.
Abração
Obrigado, poetas!
Zé, aos poucos, saboreio teu "Lavra Livre". Lendo Poetando, lembrei da exposição TEMPESTADE (Gasômetro). Este belo poema daria um casamento perfeito com tal evento. Abraço
Grato, Neli. Infelizmente não vi a exposição de que falas.
um abraço
José Antônio
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