sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009
Direitos de imagem
O colunista
e a feiúra da governadora
José Antônio Silva
Qualquer um dos oito ou nove leitores deste blog, sabe que o espaço aqui é voltado quase totalmente à literatura (contos e poemas) e temas afins. A política do dia da dia – o bang-bang noticioso e engajado, a cobertura atenta a cada novo lance paroquial – é realizada de maneira mais atenta e competente por vários outros blogs, bem conhecidos. Porém – ah, porém! – há coisas que não se pode ler ou ver sem ter uma reação imediata, até física, pelos absurdos que contêm. É precisamente o caso da parte final da coluna de Paulo Santana, na Zero Hora desta sexta-feira treze.
Mostrar-se contrário à campanha sindical contra Yeda Crusius, espalhada em outdoors pela cidade de Porto Alegre é pleno direito do colunista, como cidadão e como jornalista. Só que os “argumentos” que Santana esgrime para atacar as críticas à governadora são certamente ridículos, chegando ao nível do estratosférico.
No quarto parágrafo, após relatar os fatos, o decano cronista mais popular de ZH surpreende-se com o tom da campanha e fica sinceramente condoído com a foto de Yeda: “O rosto da governadora nos outdoors está visivelmente esmaecido, empalidecido, envelhecido, não correspondendo ao seu aspecto real e atual”. A realidade: a governador do Rio Grande não costuma “sair bem na foto”, como mostram as imagens colhidas pela imprensa diariamente, numa sucessão de esgares, olhos arregalados, imagens de frieza, irritação, etc. Mas, até aqui, tudo bem...
O quinto parágrafo: “Desde já a Justiça deverá assegurar à governadora o direito à privacidade de sua imagem, que no caso consistirá da substituição de sua imagem nas fotos”. A realidade aqui necessita de gargalhadas para melhor se expressar: pra começar, o que tem a ver “privacidade de imagem” com a questão (aliás, o que é isso numa figura pública)? E ainda determinada pela Justiça? Como será feita a substituição da foto? Fica a sugestão de Lavra Livre: um concurso (patrocinado pela RBS), com um júri de modelos, esteticistas e cirurgiões plásticos fará a escolha do melhor ângulo de Yeda para ser encaminhado aos sindicalistas.
O sexto parágrafo: “Os sindicatos foram solertes e perversos aos escolher e editar as fotos da governadora, sua imagem está visivelmente alterada para pior”. A realidade: “solerte e perversa” pode ser a definição da política yedal, que persegue os professores, colocou a BM contra os trabalhadores e movimentos sociais, arrocha o funcionalismo público, vive a gerar crises administrativas dentro de seu próprio governo e convive com escândalos de corrupção que chegaram por várias vezes ao seu secretariado ou à porta de sua casa nova.
O sétimo parágrafo é o ápice, o ponto alto do humorismo involuntário de Santana: “O mínimo direito que tem qualquer pessoa, quanto mais uma pessoa pública, é o de escolher as fotos em que aparecerá publicizada (sic)”. A realidade: fala sério! Quer dizer que uma campanha política de oposição, segundo o colunista, tem obrigação de submeter previamente ao adversário político a imagem que irá usar? Quando isto foi feito na face da Terra?
Difícil, realmente, escolher a jóia mais brilhante do raciocínio do titular da penúltima página de Zero Hora. Ele continua: “Ainda mais quando o alvo do protesto é uma mulher. A mulher tem maior direito que o homem de não aparecer descuidada e fisicamente depreciada em fotos de tanta repercussão”. A realidade: esta afirmação – por seu machismo incontornável e seu conservadorismo – deveria indignar precisamente as mulheres, mesmo as partidárias de Yeda Crusius: afinal, será que foi à toa que há décadas as mulheres em todo o mundo ocidental vêm lutando e conquistando o direito de ter direitos (e deveres) iguais aos dos homens?
O último e mais autoritário parágrafo da crônica: “Só essa manobra agressivamente antiestética pode bastar para que os cartazes venham a ser proibidos pela Justiça”. A realidade: pela segunda vez no mesmo texto, o colunista prega a censura e o recolhimento judicial dos cartazes. Pretende assim, utilizando a força do grupo RBS e de sua própria popularidade, constranger a Justiça gaúcha a tirar a campanha dos sindicalistas das ruas, em nome de uma inacreditável “privacidade de imagem” e, pior, da preservação da “estética”. Não vai adiantar: mais feia que a face física da governadora é a política que ela vem impondo, a ferro e fogo, sobre todos os gaúchos e gaúchas.
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4 comentários:
Eu, enquanto a primeira a comentar, reivindico ser a primeira leitora pública deste blog. E sobre a titia: não tem o que ela faça por fora, porque não vai mudar o que ela é por dentro: vil. E que baita coragem desses caras de botar no ar a campanha, hein? Vamos ter de acompanhar esse processo pois dele sairão obras tão ricas quanto os cacos da coluna citada.
Vai Zé, que é tua a nossa voz.
Fu Lana
Bravo TomZe, mas acredito que o PS ta de sacanagem...
Zé, fico feliz em não precisar acompanhar esse jornal e ler o Santana. Patético!! é o mínimo que se pode falar dele!
Pra quem já chamou a Yeda de ectoplasma e utopia dirigencial...
Eugênio
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