Já líamos e
apreciávamos as crônicas de Moisés Mendes em ZH, nos últimos dois anos. Eram
sempre surpreendentes. Primeiro, por mostrar-se um cronista que já surgia maduro
e com estilo refinado. Depois - e ainda
mais surpreendente – por escreve r o que escrevia exatamente nas páginas de
Zero Hora.
Nos perguntávamos:
até quando o principal impresso da RBS vai manter em seus quadros – na posição
de destaque que todo o cronista naturalmente recebe – um opinador como Moisés
Mendes?
A resposta
não demorou muito a vir. Antes, houve ao menos duas tentativas internas de
removê-lo, mas Moisés resistia. E atravessou o deserto e o Mar Vermelho, para só
então as águas poluídas do pobre Arroio Dilúvio cobrirem suas pegadas. Mas não
apagaram. Havia conteúdo e forma marcantes ali, que sobreviveriam à casa dos
Sirotsky.
Isto agora
se comprova neste pequeno volume de 156 páginas que marca com sucesso a estreia
de Mendes no mundo dos livros e da Diadorim como a mais recente editora do Sul
do Brasil.
“Todos
querem ser Mujica”, coletânea de 60 textos mosaicos (“corrida aos dicionários”,
recomendava Millôr), agrupa algumas de suas melhores criações.
Dramas
shakespearianos em pequenas cidades do interior, causos, memórias fronteiriças,
viagens pelo mundo, pela história política, familiar e social. A professorinha
inesquecível, o início no jornalismo, personalidades com quem conviveu ou entrevistou.
O icônico Muro da Mauá. E muitas observações magistrais, como a de uma jornada em
linha reta pela BR-290 até o Alegrete da juventude. Isso tudo, e algo mais,
está em “Todos querem ser Mujica”.
Fato: quem
já conhecia o Moisés como repórter curioso e com pegada humanista, além de
editor cuidadoso, aqui confirma suas melhores qualidades de profissional do
texto. Ele ensina como ser crítico sem apelar à grosseria. E até mesmo a ser
feroz preservando a civilidade.
E segue driblando
os chavões que se oferecem pelo caminho, mantendo ao natural a facilidade de
comunicação.
Se expõe bastante
na primeira pessoa, mas em sua escrita isto não soa como autoengrandecimento. Também
confessa omissões, desinteresses, erros de avaliação. Humano.
Ah, sim:
como Luis Fernando Verissimo destaca numa sintética apresentação, as crônicas
de Moisés Mendes não abandonam nunca o lado claro da vida, onde guarda sua
poção mágica do humor.
No entanto –
é preciso dizer – o livro de estreia de Mendes tem um problema em si mesmo. E é
quase indesculpável.
Ok, vamos
relegar desta vez estas míseras 156 páginas, desde que não demore muito para que
o autor nos forneça mais deste material (mais ou menos raro atualmente), em que
sua crítica social nunca anda longe da ironia, suave mas profunda.
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