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sexta-feira, 28 de outubro de 2016

Moisés Mendes reúne e confirma o talento crônico em seu livro de estreia



Já líamos e apreciávamos as crônicas de Moisés Mendes em ZH, nos últimos dois anos. Eram sempre surpreendentes. Primeiro, por mostrar-se um cronista que já surgia maduro e com estilo refinado. Depois -  e ainda mais surpreendente – por escreve r o que escrevia exatamente nas páginas de Zero Hora. 
 
Nos perguntávamos: até quando o principal impresso da RBS vai manter em seus quadros – na posição de destaque que todo o cronista naturalmente recebe – um opinador como Moisés Mendes? 

A resposta não demorou muito a vir. Antes, houve ao menos duas tentativas internas de removê-lo, mas Moisés resistia. E atravessou o deserto e o Mar Vermelho, para só então as águas poluídas do pobre Arroio Dilúvio cobrirem suas pegadas. Mas não apagaram. Havia conteúdo e forma marcantes ali, que sobreviveriam à casa dos Sirotsky.

Isto agora se comprova neste pequeno volume de 156 páginas que marca com sucesso a estreia de Mendes no mundo dos livros e da Diadorim como a mais recente editora do Sul do Brasil.

“Todos querem ser Mujica”, coletânea de 60 textos mosaicos (“corrida aos dicionários”, recomendava Millôr), agrupa algumas de suas melhores criações. 

Dramas shakespearianos em pequenas cidades do interior, causos, memórias fronteiriças, viagens pelo mundo, pela história política, familiar e social. A professorinha inesquecível, o início no jornalismo, personalidades com quem conviveu ou entrevistou. O icônico Muro da Mauá. E muitas observações magistrais, como a de uma jornada em linha reta pela BR-290 até o Alegrete da juventude. Isso tudo, e algo mais, está em “Todos querem ser Mujica”. 

Fato: quem já conhecia o Moisés como repórter curioso e com pegada humanista, além de editor cuidadoso, aqui confirma suas melhores qualidades de profissional do texto. Ele ensina como ser crítico sem apelar à grosseria. E até mesmo a ser feroz preservando a civilidade. 

E segue driblando os chavões que se oferecem pelo caminho, mantendo ao natural a facilidade de comunicação. 

Se expõe bastante na primeira pessoa, mas em sua escrita isto não soa como autoengrandecimento. Também confessa omissões, desinteresses, erros de avaliação. Humano. 

Ah, sim: como Luis Fernando Verissimo destaca numa sintética apresentação, as crônicas de Moisés Mendes não abandonam nunca o lado claro da vida, onde guarda sua poção mágica do humor.

No entanto – é preciso dizer – o livro de estreia de Mendes tem um problema em si mesmo. E é quase indesculpável.  

Ok, vamos relegar desta vez estas míseras 156 páginas, desde que não demore muito para que o autor nos forneça mais deste material (mais ou menos raro atualmente), em que sua crítica social nunca anda longe da ironia, suave mas profunda.   

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