Estelionato autoral na rede
Como todo mundo sabe, circulam pela internet muitos textos –
quase sempre bem intencionados, politicamente corretos, mas fracos
estilisticamente – assinados por jornalistas famosos, cronistas e escritores
prestigiados. As “vítimas” deste estelionato autoral são quase sempre as
mesmas. Luis Fernando Verissimo, Arnaldo Jabor, Clarice Lispector, Vinícius de
Moraes, Martha Medeiros, Caio Fernando Abreu – e ainda José Saramago, Jorge
Luiz Borges, Gabriel Garcia Márquez...
Alguns desses escritores (os vivos, claro) já se
manifestaram várias vezes para negar serem os autores desta ou daquela crônica
ou parágrafo – quase sempre redigida em estilo canhestro, por mais sucesso que
faça na internet. Em vão. Muitas
pessoas preferem acreditar que o texto de que tanto gostaram seja de alguém a
quem admiram (ou de quem já ouviram falar) do que de um desconhecido qualquer.
E aí (do outro lado do balcão) acontece um fenômeno curioso:
o verdadeiro autor do tal texto escolhe um nome de griffe para assinar a sua criação, desinteressado em prestígio pessoal... Com postura militante, aparentemente
quer passar com mais vigor e força de convencimento a sua mensagem, sua
ideologia, sua crítica ou protesto. Mas não ousa dizer o próprio nome.
Esse, ao que tudo indica, é o caso de uma crônica de levada
feminista e correção política que vem ganhando inúmeros “curtir” no Facebook e
comentários engajados – mas que com certeza não foi gestada pelo brilho de Verissimo,
embora seja o nome dele que aparece como autor. O conteúdo é antimachista, mas
o estilo é agressivo e passa a quilômetros da delicadeza, sutileza e do fino
humor do maior cronista brasileiro.
Mas quem se importa?
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