O jornalismo íntegro que renasce da universidade
Esqueça os principais jornais gaúchos, por um momento. Você já sabe como eles são – depois voltaremos, brevemente, ao assunto. Eis, porém, que valores mais altos se alevantam. E não vêm do campo profissional, mas do campus universitário. Refiro-me aqui, especificamente, à Fabico, da UFRGS, que nos últimos tempos vem surpreendendo com várias publicações que seguram o jornalismo pelos chifres, com vontade e integridade.
A saber, o Jornalismo B, em versão digital e impressa (esta em tamanho tablete, papel jornal, sem cor). Nos dois formatos, o prato de resistência é a crítica cultural e, fundamentalmente, a cada vez mais necessária crítica da própria imprensa. Não se precisa concordar com todas as posições ali defendidas, é claro, para ver que eles preenchem um lugar vago na mídia gaúcha. Tem tudo a ver a tentativa de trazer à luz aspectos da notícia que os diários gaúchos omitem, minimizam ou desqualificam à seu bel prazer. Vai numa trilha criada dez anos atrás por sites como Zero Fora, Mídia Alerta - e mesmo o Tomando na Cuia original, que aliava o comentário da mídia com um humor satírico e corrosivo.
Já em outra embalagem e conteúdo, temos o jornal tablóide Tabaré. Mais caótico, anárquico, experimental, sempre com uma ilustração na capa, a publicação estudantil parece ter como principal referência o crítico, icônico e cômico (“icômico”?) O Pasquim, dos anos 60/70. A terceira boa surpresa gerada pelos alunos da Fabico, fora do currículo escolar, é a revista Bastião. Visual diferenciado, papel cuchê, logotipo forte, busca o jornalismo de comportamento, político, cultural. Publicação aberta ao que der e vier.
Buscando caminhos
Nas três propostas, a busca de caminhos próprios, independentes, com algo do espírito da imprensa “alternativa” e resistente dos tempos ditatoriais. Jornalismo B, Tabaré e Bastião podem ser embriões de alternativas profissionais menos comprometidas, nas bancas de jornal. Talvez nunca passem de tentativas, em termos profissionais.
Até porque, não é exagero dizer, a ditadura militar de ontem deu lugar à ditadura mercadológica e financista de hoje, em outro estilo de perversidade. Porém, se estes e outros jornais e revistas que vêm (ou não) da universidade pública pela mão de estudantes de comunicação não passarem da fase de ensaio... que belos ensaios.
Arrogância e exorcismo
Agora podemos retomar a frase inicial deste texto sobre os principais jornais gaúchos. No topo, o virtual monopólio de uma empresa, que tem lá seus méritos. Mas impõe os próprios interesses e a sua visão corporativa a todos os setores da sociedade gaúcha - e com tal arrogância que chega ao constrangimento. Descendo um degrau na qualidade técnica, um grupo que foi tradicional e hoje é praticamente uma legenda de aluguel - para exercer pressão política e econômica - de “bispos” empresários e executivos, que nada conhecem de jornalismo e exorcizam sem perdão quem mostrar que conhece.
Triste, né? Mas pura e dura realidade. Por isso, gaúchos e gaúchas que têm dificuldade em aceitar passivamente o que nos é imposto, podem mostrar sua indignação dando força, comprando, assinando ou anunciando em Jornalismo B, Bastião e Tabaré. Apenas por exemplo.
Confere lá:
bastiao.net
jornaltabare.wordpress.com
jornalismob.wordpress.com
5 comentários:
Torre à vista!
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Concordo plenamente com tudo o que vc falou, Zé. Se antes os jovens se rebelaram contra a ditadura militar, hoje o protesto é contra as garras corporativas, econômicas e tecnicistas que sufocam ideias e conhecimento. Calar-se, jamais. Parabéns aos estudantes que estão cumprindo o verdadeiro papel do jornalismo: a função social,a crítica, mostrar o mundo sem maquiagem...
Obrigado pelos comentários, Juarez e Alina. Essas publicações (e outras) mostram que há uma movimentação promissora, frente ao marasmo atual do jornalismo "oficial" aqui no RS.
Lavra livre e seus desdobramentos: melhor sítio de jornalismo cultural, debate e porque não política do rs...
Obrigado, mano Steve. Isso dá força pra gente ir metendo a nossa bronca. Valeu!
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