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sábado, 8 de outubro de 2011

Crônica Minha


Quem tem a sorte grande


José Antônio Silva


Quem tem a sorte grande de possuir um talento, quem cultiva uma arte,

um ofício que lhe traz gratificação pessoal, nunca está realmente só. Esta deusa é companheira nos momentos ótimos, nos momentos de calmaria e até nos de tempestades. Mesmo nos revezes da sorte, no mínimo será um balsamo a aliviar a carga de sofrimento. Uma mão iluminada a qual nos agarramos e que nos carrega à praia, onde, em último caso, morreremos somente quando o destino determinar.


Mas há artistas que não conseguem entender/sentir/aproveitar essa bênção. Estes, dominados por demônios que não sabem fazer calar, acabam entregando-se à destruição, por vezes com as mesmas mãos que tocavam, que pintavam, que escreviam, que criavam.


São vítimas – mais que isso: escravos – da Ansiedade projetada ao nível do alto desespero, prima-irmã de outra bruxa cruel, a Depressão, com a qual se reveza na imposição quase contínua da dor.


Digo “quase” contínua, pois alguns destes artistas conquistam – ou constroem com esforço – determinados períodos de leveza e até alegria. Muitos (e aqui me lembro do grande guitarrista Eric Clapton, um desses heróis sobreviventes) parecem ter encontrado mesmo o caminho da harmonia e da paz em vida.


Flertando com ela

Infelizmente isso não é tão comum. Muitos deles terminam por enlouquecer, ou entregam-se até o fim ao álcool, às drogas, aos exageros e flertes com a mestra Morte, que acaba por lhes satisfazer o desejo. (E aqui “desejo” não está na mesma categoria com que ansiamos por sexo, comida saborosa ou outra satisfação relacionada ao prazer de estar vivo. Não, este “desejo” é o antiprazer de viver – não se almeja propriamente satisfação ou gozo, apenas findar com o sofrimento).


O bom é que os desesperados que tiveram a felicidade de encontrar caminhos para a harmonia e a tranquilidade não salvam apenas a si mesmos: são exemplos de que a Depressão e sensações como a da falta de sentido para a existência, ou o tédio, não precisam ser mortais. Podem ser e são superados. Valorizar os próprios talentos ajuda nisso. E quem é que não possui algum?

Um comentário:

José disse...

Parabens José Antonio! Belo pensamento que trazes a todos os artistas. A arte tem que ter um propósito maior, transcendental.
Só assim pode ser duradoura!
Namaskar! Abraço!