Buraco negro
José Antônio Silva
Um buraco na infância
quintal da minha memória
que eu não lembro
e não esqueço.
Um buraco fundo e negro
que procurei tapar
com terra
pedregulho caco de telha
e mais outra terra por cima.
Um poço bem estreito
que acho não tinha fim
jogava tijolo
brita com cuspe
planta de vaso quebrado
aureola de santo
areia da praia
mais pedra
e sempre faltava um tanto.
Socava a tralha com o pé
puxava terra
no caminhão
joguei um grilo
galho quebrado
minhocas
e dê-lhe pedra e mais pedra
e o bruto não fechava.
No meio dos vultos
da noite
por vezes eu me encontrava
no pátio enluarado
ao lado do cachorrinho
ao pé do buraco
ajoelhado.
Até brinquedo joguei
um pião com pouco uso
o revólver do meu pai
um soco no meu irmão
um bolo da minha mãe
mas o vácuo não cessava.
Meia volta
volta e meia
me vem o buraco à mente
- e lá vou eu pro buraco
de volta ao inclemente.
Nuns dias até parecia
que havia diminuído
agora faltava pouco!
porém
olhando da borda
era tudo aquele pouco.
Ali já lancei folha verde
caderno velho
pedras de rim
cabelo branco
sonhos novos
até que entendi enfim:
aquele maldito só fecha
após enterrar a mim.
Out.2009
7 comentários:
Clap, clap, clap! (Pô, Zé, nesse buraco se enfiam todos os teus leitores!)
Beleza de poetagem.
Aventei compor imagem
pro Buraco Negro.
Mas ele já é a figura
oca e plena de si.
Se muito bem sucedida,
o melhor dos resultados
seria
um buraco tautológico
- carente da terceira dimensão.
Bj, Lilita
Ótimo poema!
Caralho, tão profundo como o buraco negro do cosmo que é formado por antimatéria e a tudo suga...
Arrasou!
baita poema!
Contém beleza, mas também dor, como a infância de muitos de nós...Belo poema!
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