Dia de cassetada mundial no lombo de trabalhador
José Antônio Silva
“Polícia para quem precisa/ polícia para quem precisa/ de polícia!”. Os versos dos Titãs congelam para sempre uma percepção romântica da realidade. Na prática cotidiana, todos precisamos de polícia: da bela jovem espancada e prestes a ser assassinada pelo namorado ciumento, ao empresário respeitável que frauda o fisco. Ou do ladrão que rouba em um minuto a moto comprada em sofridas prestações pelo moto boy, à nós que ultrapassamos o sinal vermelho em alta velocidade... Enfim, quem é mesmo que não precisa de polícia?
Talvez alguma sociedade utópica, do passado ou do futuro – tanto uma quanto a outra, sempre idealizadas.
Divagações a partir das imagens da TV, neste Primeiro de Maio, Dia do Trabalho. Entre comemorações e shows musicais promovidos por centrais sindicais, foram recorrentes as cenas da polícia espancando trabalhadores e manifestantes, em diferentes pontos do mundo, da Alemanha à Turquia.
Força dos interesses
Bem, aí cabe a pergunta: quem é precisa de polícia, nessas e em situações semelhantes? A resposta é cristalina: o capital – e o estado que coloca sua força na defesa destes interesses.
Quando se instituiu a data de Primeiro de Maio como Dia do Trabalho (ou, na versão contemporânea, Dia do Trabalhador), pretendeu-se homenagear trabalhadores assassinados na Chicago de 1886, durante uma greve. Dezenas de operários e operárias foram mortos pela polícia. Como o movimento crescesse a partir desta chacina, os líderes grevistas foram presos e julgados: cinco balançaram na forca e outros tantos encararam a prisão perpétua.
Os crimes destes perigosos elementos, nocivos à ordem social? Pois ousaram reivindicar um descanso semanal. Um piso salarial. Um número máximo de horas trabalhadas por dia.
Pode-se dizer, portanto, cara leitora, caro leitor, que devemos este aprazível feriadão a coragem de alguns trabalhadores, que queriam deixar de ser escravos urbanos, já em época avançada da revolução industrial.
Não é só o feriado que devemos a eles, claro. A mobilização e luta destes e outros sindicalistas e militantes sociais permitiu que hoje os trabalhadores, na maior parte do mundo, possam ter férias, abonos, salários mínimos, planos de carreira, e outras conquistas agora estabelecidas em lei e consideradas direitos naturais.
Só muda o uniforme
Então, quando vemos a polícia, em diferentes uniformes e línguas, distribuindo cassetadas e jogando bombas de gás nos trabalhadores, já sabemos: naquele país - é muito provável - estão tentando “flexibilizar” ainda mais os direitos adquiridos com sangue, suor lágrimas nos últimos séculos.
O neoliberalismo e a ciranda financeira alimentada pela busca da lucratividade infinita levaram o mundo ao caos atual, mas seus agentes não morreram e muito poucos foram presos – no máximo os governos os colocaram de castigo, por terem feito tal travessura. Meninos arteiros!
“Trabalhadores da segurança”
Ah, sim a polícia. Os “trabalhadores da segurança” (como quer o jargão sindicalês), de modo geral recebem baixos salários, operam com equipamentos defasados ou inadequados, têm formação deficiente e atividade de alto risco. Sofrem grandes limitações de organização e representação trabalhista. Muitos se corrompem e/ou abusam de sua autoridade.
E pela própria natureza de seu trabalho, historicamente formam no outro lado das barricadas – sempre ao lado dos reis, nobres, alto clero, barões da indústria, latifundiários, megaempresários, grandes investidores e banqueiros. Nos regimes e períodos de exceção, dobram seu poder.
No entanto, há polícias e policiais que também investigam, enfrentam resistências poderosas e podem prender macro escroques como Daniel Dantas e outros, ainda que estes eventualmente sejam defendidos por altas figuras da República - no Executivo, Legislativo, Judiciário...
A pergunta, enfim, não parece ser quem precisa de polícia.
E sim: de qual polícia nós precisamos?
sábado, 2 de maio de 2009
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Um comentário:
Belo texto Zé!
Botei um link dele para o meu blog http://ratoqri.blogspot.com/
Abração
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