
José Antônio Silva
La Paz: bela e estranha paisagem lunar, pessoas educadas e acessíveis, cholitas de chapéu côco, temperos fortes, fôlego arfante. E um câmbio muito favorável aos nossos reais (dizem que a Bolívia é o país mais barato das Américas).
Estas algumas primeiras impressões de quem passou recentemente uma semana na capital boliviana, a 3.300 metros de altura. Primeiros dias, passos lentos e atividade física controlada, para que o ar não falte. Lábios ressecados, nariz sangrando. Aos poucos, o organismo se habitua. Mas sempre é bom manter um certo controle na alimentação, apimentada...

Prédios históricos impressionantes, ruas limpas, passeios interessantes que não tivemos tempo de curtir, na capital de Evo Morales (aliás, um presidente discretamente apoiado pela maioria das pessoas com quem conversamos). Lojinhas, na Calle de las Brujas, oferecem aguaios, mochilas, sombreros de cholas, estatuetas e muito artesanato autêntico deste povo (majoritariamente das etnias quéchua e aimára). Ao menos a metade dos taxistas que nos conduziram pela cidade, naqueles dias, já havia morado ou tinha parentes trabalhando e vivendo em São Paulo...
Escarpas no Vale da Lua
Apesar da rígida programação do evento (da manhã à noite), ainda consegui passear com outros participantes pelas trilhas escavadas nas arenosas escarpas do Vale de La Luna, em Calacoto, sul da capital.
Enfim: eu como roteirista, mais Claudinho Pereira como diretor (e acompanhados de Preta, sua

Uma oportunidade de conhecer projetos e novos cineastas, produtores e conferencistas de toda a América Latina e da Europa (como o pessoal do Programa Ibermedia).

Também a Embaixada do Brasil colocou-se à nossa disposição e ainda nos forneceu como tradutora uma funcionária brasileira radicada na Bolívia, para a apresentação de nosso projeto.
Ele, o projeto de “largo” (longa-metragem) Charles Anjo 45, não recebeu qualquer premiação, talvez por considerarem que seria um filme mais facilmente patrocinável em nível de mercado (tomara...) O mesmo aconteceu com o outro indicado pelo Ministério da Cultura brasileira, da paulista Paula Kim. Mas só o fato de sermos indicados já constituiu uma vitória: fomos selecionados entre mais de 480 projetos brasileiros.
No balanço final, fiquei com a impressão de que o BoliviaLab, em sua segunda edição, ainda busca um perfil mais ajustado, um foco – que parece ser o de privilegiar projetos experimentais e de estreantes, com ênfase no campo do documentário, sem esquecer de premiar a prata da casa. Visivelmente, uma iniciativa em processo de evolução.
Navegar é preciso, mas...
A lamentar, pelo lado pessoal, somente o fato de perdermos o grande passeio de “buque” (navio) pelo Lago Titicaca no domingo de encerramento. Mas não houve como ir: por algum misterioso cochilo de produção, nossa conta de hotel foi fechada na manhã de domingo, enquanto nossas passagens de volta ao Brasil só serviam para o vôo da manhã de segunda-feira. Naquele domingo, preferimos garantir um lugar para ficar até o dia da viagem, ao invés de navegar...
Três vôos por dia para ir e três para voltar. (Porto Alegre-São Paulo; São Paulo-S.Cruz de La Sierra; S.Cruz-La Paz – e vice-versa). As viagens ficaram por conta do Ministério da Cultura brasileiro. A hospedagem e alimentação, bancadas por seu congênere da Bolívia.
La Paz é impressionante. Valeu.
ENTENDENDO MELHOR
Cholitas – Índias vestindo trajes típicos, como saias rodadas, aguaios e, em especial, chapéus côco, que de alguma maneira fantástica não desabam do alto de suas cabeleiras nem quando elas correm para atravessar a rua. São onipresentes: sempre haverá uma cholita ao alcance da vista.
Aguaios – Panos coloridos, com motivos indígenas, que as cholas usam para carregar compras, pacotes, crianças de colo, etc.
Aimáras e quéchuas – Etnias indígenas que formam a maioria da população de La Paz ( o restante é formado por brancos de classe média e alta). O povo fala espanhol, quase sempre: segundo me disseram, aimáras não entendem o idioma quéchua, e vice-versa.