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segunda-feira, 16 de setembro de 2019

“Bacurau”: um Tarantino à brasileira?

Cinema



“Bacurau”: um Tarantino à brasileira?

José Antônio Silva

Dizem que “Bacurau”, de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles - que arrematou o Prêmio do Júri em Cannes e é fenômeno de bilheterias - poderia ser assinado pelo americano Quentin Tarantino, tal o número de cenas de sangue e tiros que apresenta aos espectadores. Mas há brasilidade demais e uma crítica social profunda que fazem com que o filme brasileiro, agora em cartaz no CineBancários, seja, exatamente, brasileiro até a medula. Mais precisamente: nordestino até a caatinga. 

O sangue que escorre aos borbotões, em um lugarejo do sertão nem tão ressecado, pode ser visto como uma alegoria do domínio imperialista norte-americano sobre o Brasil e a América do Sul. Ao invés das grandes multinacionais e dos grandes bancos do Hemisfério Norte que economicamente carreiam recursos para fora do nosso país como uma espécie de vampiros econômicos, no caso de Bacurau são americanos os que vêm para o Nordeste brasileiro em um safári… para uma verdadeira caçada humana.

Tudo fica mais misterioso no filme pois as ações parecem se passar num futuro não muito distante. Há toques quase surrealistas a causar estranheza nos espectadores, como o drone em formato de disco voador de ficção científica barata, que traz um clima ultrapassado a este “futuro” distópico. 

Tecnologia e cangaço

O pernambucano Kleber Mendonça Filho, comprovando o grande cineasta que é (como demonstram, por exemplo, “Edifício Aquarius” e “O som ao redor”), inova de várias maneiras, com jeitinho à brasileira. Jogando com a tecnologia (a cidadezinha de Bacurau “desaparece” do mapa quando os gringos derrubam o sinal) de um lado, além da tradição nordestina e o cangaço, o choque entre civilizações, línguas e diferentes visões da vida passam na tela de Bacurau.

Sua atriz-fetiche, uma envelhecida Sônia Braga (Doutora Domingas) apresentada sem glamour, e nomes como Silvero Pereira (Lunga), Thomas Aquino (Pacote) e Barbara Colen (Teresa), atuam ao lado de atores estrangeiros, como Udo Kier e Alli Willow. Silvero tem destaque por remeter a tradição sertaneja e a Lampião, através de um bandido pós-moderno com raízes no cangaço. O museu da pequena localidade ganha relevo ao demonstrar uma inesperada utilidade para as suas velharias. Outro aspecto a destacar é a improvável união de adversários locais para fazerem frente ao grande e sanguinário inimigo comum. 

O que não deixa de ser uma sugestão sempre pairando no ar. 


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