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terça-feira, 24 de maio de 2016

Sartori quer repetir massacre dos lanceiros negros, 200 anos depois de Porongos

Lanceiros Negros foram os escravos que se alistaram na Revolução Farroupilha contra o Império, na primeira metade do século 19. Formaram batalhões de guerreiros a cavalo armados de longas lanças, que enfrentaram as tropas de Dom Pedro II. Em troca, os estancieiros e a elite gaúcha de então lhes prometeram a liberdade e a alforria, após o fim da guerra.


Mas tudo que receberam foram traição e morte, no episódio mais vergonhoso da Revolução, em 1844, quase ao final da insurreição. Episódio que ficou conhecido como Massacre de Porongos, quando os lanceiros foram desarmados e assassinados por um batalhão imperial, em provável acerto com alguns líderes farrapos. Libertar os escravos, ao fim da guerra, traria muitos problemas a economia riograndense da época – como acontecia em todo o Brasil.

Afinal....
No início da manhã gelada deste dia 24 de maio, o prédio histórico situado na esquina das ruas General Câmara e Andrade Neves, no Centro de Porto Alegre, pertencente mas abandonado pelo governo estadual há oito anos - que agora serve de moradia para cerca de 70 famílias de trabalhadores informais, artesãos, indígenas, crianças e idosos expulsos da periferia e de áreas de risco por inundações, pela miséria e a guerra do tráfico - foi cercado pela Brigada Militar. Queriam cumprir ordem de despejo emitida pela briosa Justiça do RS.

A ideia básica da administração de José Ivo Sartori era brilhante, digamos assim: tirar as famílias – com cerca de 40 crianças - do velho prédio ( que os próprios moradores vem fazendo a manutenção e melhorias) e... simplesmente jogá-las na rua!

 Numa época de frio intenso no Rio Grande do Sul, que chega perto de zero graus na madrugada.
O fato de não negociar para que as famílias possam continuar no prédio; de não oferecer serviços básicos para esta população (que é auxiliada apenas por ONGs, sindicatos, movimentos sociais, estudantes, militantes políticos); de não colocar alternativa real de moradia e/ou alojamento em condições para estas famílias, mostra um profundo desprezo do governo e das elites pela população mais carente.

Quem são os moradores da Ocupação Lanceiros Negros? Mulheres que sustentam sozinhas os filhos, famílias negras, indígenas, trabalhadores desempregados ou no trabalho informal, operários, migrantes e outros membros autêntico da população gaúcha, são considerados escória e, para um governo articulado com o grande capital, podem muito bem ser jogados literalmente na sarjeta.
Se não for isto, é incompreensível que a administração estadual do Sartorão “da massa” (como se apresentava na campanha eleitoral) não mostre disposição para regularizar a situação e permitir que estes moradores – agora, no Centro da cidade, mais próximos de serviços básicos como escola para crianças, postos de saúde e hospitais, oportunidades de trabalho – permaneçam no prédio. Prédio que estava literalmente abandonado.

Que fiquem no prédio – agora conhecido como Ocupação Lanceiros Negros – do mesmo modo que outros grupos de pessoas carentes fizeram há muitos anos em mais ocupações no Centro da Capital gaúcha, hoje regularizadas, em prédios em situação semelhante na Av. Borges de Medeiros (como a Ocupação Utopia e Luta).

A não ser que o governo de José Ivo Sartori queira entrar para a história como o novo traidor dos Lanceiros Negros, quase 200 anos depois.

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