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quarta-feira, 21 de janeiro de 2015



Guerra Fria no coletivo

José Antônio Silva

Sentados lado a lado no banco do ônibus, uma moça – cerca de 20 anos – e um homem de meia idade, talvez 55. Os dois chamam a atenção: afinal, estão lendo, lendo livros. A moça, à janela, manda ver num romance clássico do comunista mundialmente premiado Jorge Amado: “Terras do Sem Fim”. O coroa se joga num best-seller coxinha – o “Guia politicamente incorreto da América Latina”.
A garota aprende sobre o coronelismo, as origem do êxodo rural e dos latifúndios, o atraso histórico do Nordeste que só agora começa a ser superado, tudo em uma linguagem lírica e cruenta.
O senhorzinho ferve os miolos de provável desprezo pela esquerda, ao ler, com leve sorriso, ironias sobre o presidente eleito chileno Salvador Allende, morto durante golpe de estado em 1973. 
O livro pergunta, em tom de brincadeirinha, quem seria o responsável pela ação que rompeu a ordem democrática no Chile, matou três mil pessoas e torturou e prendeu outras 37 mil vítimas:
1) A CIA; 2) O Governo dos Estados Unidos; 3) O presidente norte-americano; 4) Nenhuma destas hipóteses.

Hora de desembarcar.