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segunda-feira, 9 de junho de 2014

Mídia 2014 – Chorando para não rir

José Antônio Silva

Imprensa brasileira atravessa fase de completa esquizofrenia. Seus
setores de Esportes e Marketing (hoje, praticamente uma coisa só) vivem explosão de investimentos, megadivulgação, promoção dos jogos, jogadores (vida e obra), Felipão, comissão técnica (o prato predileto do Murtosa, por exemplo), especialistas, etc – num clima de euforia e indisfarçável “Vamos lá, Brasil - sil - sil”.

Já os editores de Política, Geral, Economia, etc., têm ordem (expressa ou subentendida) de baixarem o pau direto no Governo Federal, na Dilma, na inflação “fora de controle”, na corrupção da Copa, nas obras que não ficaram prontas em tempo (sobre as que ficaram – desmentindo-os - apenas silêncio ou cobertura discreta). Mostram detalhada e continuamente as manifestações contra o evento (e as passeatas oportunas de sindicatos que fazem suas greves, como a dos transportes, num momento chave). 

A contradição não pára por aí. A mídia tem imensos interesses econômicos objetivos na divulgação da Copa do Mundo, seus jogos, seus “heróis”, mas têm, também, imensos interesses políticos em continuar desconstituindo o governo petista. Então ela alterna – às vezes em seqüência direta – uma matéria sobre a euforia de torcedores com outra de militantes raivosos espumando de raiva contra a Copa e repetindo chavões sobre “hospitais padrão Fifa”.

Dados gerais – superinvestimentos na construção da infraestrutura em todo o país (inclusive hospitais) – ou a explicação básica de que recursos para a educação e saúde, por exemplo, não são prejudicados por obras da Copa - são esquecidos nestas matérias.

Enfim: a imprensa tem que fustigar o governo petista utilizando o mote da Copa, criando um clima de terra arrasada. Mas praticamente ao mesmo tempo, ou no minuto seguinte, precisa levantar o mesmo astral que ela ajudou a baixar, e logo passa a mostrar gente sorrindo, vibrando com as possibilidades da Seleção, etc.

Como no teatro, os âncoras, apresentadores e repórteres de TV afivelam – e arrancam no minuto seguinte - as máscaras do riso e da dor, no show de interesses. Já pensou se sorriem num momento “manifestação” e fecham a cara na hora de chamar uma especial com o Neymar? Para desespero do anunciante ou da coordenação de campanha da oposição?!
Vida dura, gente.

Isso ainda vai dar motivo para muitas teses universitárias – sem falar nos espaços políticos e nas entidades profissionais - sobre o acesso de loucura e incoerência formal da mídia brasileira em 2014. E, se nossa grande imprensa fosse realmente democrática, esta cobertura poderia servir de mote para seus futuros programas humorísticos. “Rindo para não chorar”.  Ou, “Chorando para não rir”. Mas, seja qualquer for a versão a predominar no país, a mídia não perderá nada.


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