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segunda-feira, 23 de junho de 2014

Livro


Quadrinho por quadrinho, oitenta anos de sindicalismo e transformação social

José Antônio Silva

A maestria formal das ilustrações que retratam a Porto Alegre das primeiras décadas do século XX é, provavelmente, o que mais desperta a atenção de quem tem nas mãos “Sindibancários – Uma História de Luta em Quadrinhos”. Mas o registro gráfico preciso, a recuperação visual da capital dos gaúchos e de alguns de seus principais personagens históricos, está, no caso, a serviço de um conteúdo político. Como o nome indica, o primeiro volume do livro em quadrinhos, lançado em maio último pelo Sindicato dos Bancários/RS, recria três décadas cruciais para a categoria e para toda a organização dos trabalhadores do RS e do Brasil, entre 1933 e 1963.
 
O roteiro bem costurado, de Paulo Cesar “Foguinho” Teixeira, conduz o leitor tanto pelos movimentos iniciais que culminaram na criação do Sindicato quanto pelos intrincados contextos político, histórico, comportamental e cultural da época. Através do texto de Teixeira, do desenho de Vasques, o leitor pode ver em panorâmica a construção do Viaduto Otávio Rocha (muito mais conhecido como “Viaduto da Borges”), que até hoje traz orgulho aos portoalegrenses.

Conquistas
A reunião de fundação do Sindicato (com ata assinada no dia 18 de janeiro de 1933), assim como a primeira greve de bancários e bancárias, um ano depois, estão no livro. Também conquistas cruciais dos trabalhadores – como a criação da Justiça do Trabalho, do salário mínimo, da CLT, das férias remuneradas, etc., promulgadas pelo então ditador Getúlio Vargas - estão lá. Assim como a desconfiança dos bancários nas benesses vindas de um governo autoritário.  

Desfilam pelas páginas da HQ (em preto e branco, hachuras e aguadas de nanquim), além de Vargas e suas contradições, figuras como Jango Goulart, Leonel Brizola, Carlos “Corvo” Lacerda, o humorista e militante comunista Barão de Itararé, entre outros. Podemos ter uma ideia do panorama político conturbado do país, sempre ameaçado por conspiratas e golpes.

Rede da Legalidade
Esta história quadrinizada do Sindibancários, nos seus 80 anos - inspirada no livro coletivo “Banco não dá bom dia”, de 2008, fruto de oficina literária conduzida por Alcy Cheuiche – termina seu primeiro volume com a volta de João Goulart ao poder.  Teixeira e Edgar Vasques, para tanto, relatam a tentativa golpista de 1961, frustrada pela ação corajosa do governador Leonel Brizola e a sua “Rede da Legalidade”.

Mas, como está provado, a História não acabou. Nem na política nem nesta sintética versão quadrinizada. E já aguardamos o novo volume da obra, quando o sindicalismo – e seu contexto – sofrem longos 21 anos de perseguição, arbítrio e censura, assim como participam ativamente da redemocratização do país. Valorizando ainda mais esta obra, é importante lembrar que o Sindicato dos Bancários do RGS, em especial, ajudou a forjar lideranças políticas como Olívio Dutra e Tarso Genro, que seguem na luta por uma sociedade ainda mais igualitária e mais justa.


Ficha técnica:
“SindBancários – 1933-1963 – Uma História de Luta em Quadrinhos”
34 páginas
Roteiro: Paulo Cesar Teixeira
Ilustração: Edgar Vasques
Capa/Projeto gráfico: Fernando Jorge Uberti
Revisão: Daiane Cerezer
Editor: Moah Souza

3 comentários:

Clovis Heberle disse...

Acho muito importante mostrar a história - passo por passo - desta luta dos bancários e de outros trabalhadores, que décadas depois frutificou. Parabéns ao Paulo Teixeira e a você, por divulgar esta obra.

Arthur Danton disse...

Não li e já gostei. Vou atrás de um exemplar pra mim.
Forte abraço!

Arthur

José Antônio Silva disse...

Valeu, Clovis e Arthur. O livro é bom mesmo. E vamos aguardar o segundo volume.
Abraços!