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sábado, 15 de março de 2014

Valeu, Jayme Leão



José Antônio Silva

Discreto, ele mais ouvia do que falava. Sereno, quando falava ponderava tudo e em geral harmonizava a reunião, o debate ou o simples papo no boteco. Tinha o chamado “bom astral”, embora fosse muito crítico do que precisava ser criticado. Brilhante, era o resultado do desenho que apresentava, muitas vezes síntese impecável do tema, vazado em bico de pena, nanquim, traço realista e talento.

Este foi o Jayme Leão que morreu há poucos dias em São Paulo, aos 68 anos, e que conheci quando lá morei, entre os anos 70 e 80. Autodidata, ex-desenhista de quadrinhos, colaborador da imprensa alternativa (foi um dos fundadores do jornal “Movimento”, de resistência à ditadura militar), referência profissional e ética para jovens jornalistas, ilustradores e cartunistas, o nordestino alto depois se dedicou à ilustração e ao capismo de livros infantis, além de trabalhos esparsos para a grande mídia.

Como outros grandes nomes do cartunismo e ilustração, com carreira brilhante e trabalho singular, Jayme já não tinha espaço num mercado editorial coxinha e discriminador.

Jayme Leão, com quem convivi por alguns anos, em redações e mesas de bar paulistanas, continuará uma referência, por sua obra. Fui um dos editores do livro cooperativado “Vício da Palavra” (SP, 1977), que reuniu escritores e artistas paulistas, gaúchos, nordestinos e de muitos outros cantos do país. Acima, a ilustração que o Jayme fez para o conto “Banquete de mendigos”, do Valdir Zwetsch, no livro. Um aperitivo da maestria do traço e da força de sua criatividade.

Valeu, amigo!