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sexta-feira, 6 de dezembro de 2013


Na trilha de Mandela, Luther King e Ghandi

 

José Antônio Silva

 

Dizer que Nelson Madiba Mandela foi um grande herói é muito justo, mas é pouco. Eu o comparo a outros poucos homens de coragem, determinação inquebrantável e – o que nem todo o herói possui, por melhores que sejam suas intenções – uma imensa tolerância. Tolerância ao sofrimento que lhe impôs o racismo, os quase 30 anos de prisão, a violência do isolamento, a doença que o abateu nos últimos anos. E tolerância também com os que pensavam e agiam de modo injusto, discriminatório e autoritário.

 

Mas sua tolerância, que ninguém se engane, era equilibrada com a luta e a resistência – para não recuar um só passo em suas convicções, conquistas e ações.  Tinha consciência que se fizesse a luta armada, mergulharia o país numa guerra civil com muitos milhares de mortos, especialmente do lado mais fraco. E sabia que a justiça, em seu sentido maior e essencial, estava com ele, e triunfaria. Mandela superou a divisão do país, baseada no regime do “apartheid”, uniu a África do Sul e tornou-se o seu presidente.

 

Coloco a figura de Mandela junto a de Mohandas Gandhi, o pacifista que aplicou o princípio da não-violência (Satyagraha) e da desobediência civil  e conquistou, simplesmente, a independência da Índia do domínio britânico. Também situo, em patamar semelhante, o líder religioso norte-americano Martin Luther King, que emprestou sua força moral e seu espírito visionário à luta contra a discriminação racial e às más condições em que vivia grande parte da população negra nos EUA. Sua voz – e o seu sonho –foram a inspiração das marchas pelos direitos civis. Assim, como Ghandi, ele morreu assassinado. Mas pode-se dizer que sua luta teve sucesso – e hoje, com seus erros e acertos, há um negro na presidência do país mais poderoso da Terra.

 

Imagine, em outra escala, que não seria um exagero muito grande lembrar a figura do músico John Lennon nesta galeria de militantes sociais da paz. Cada um a seu modo, eles provaram que é possível que mudar a sociedade sem disparar um só tiro – mas dificilmente sem recebê-lo.

 

Mandela, Ghandi e Luther King mostraram ao mundo - branco e injusto -que a força moral, o senso de justiça e a razão superior podem dobrar o poder bruto das armas e da iniqüidade. E essa lição já não pode mais ser esquecida.

 

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