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domingo, 28 de abril de 2013

Poetando - Vagar em Macau


Olha só:
Aqui vai uma poesia não propriamente escrita, e sim montada por mim, como um lance de dados. Dados em forma de palavras e frases aleatórias que recolhi anteriormente e anotei, sem tema nem tino. 

Estas as palavras que ajuntei e me desafiavam:
Chicana – era fatal: desatinou – reverendo – ofegar – esmola – linha do mar – pinel – peitinhos – caminhar incessante – pulsação – voz macia – revirando – Macau – literatura circular – falar português – os perfumes da cidade – pilhagem – conselho – vai chover – procissão – ponta-cabeça – vagar – adormecida – vou.

Ficou assim (mas poderia ter ficado assado):

Vagar em Macau

José Antônio Silva

Meus olhos
da linha do mar
saltaram aos peitinhos orgulhosos
em caminhar incessante
entre os perfumes da cidade
a ofegar
.............
A mansidão adormecida
da tarde em leve brisa
de Macau
neste mês
me pegou meio pinel
a escutar tua voz macia
- Eu também falar português...
.....................
Era fatal – desatinou a historia                                   
nesta primeira vez
em viagem-pilhagem
aos desvãos da
língua-mãe
achei uma filha do tempo
deusa china
prima no verbo luso
................
Apelei para a chicana
a malandragem
mas saiu apenas
- Será que vai chover?
Ela sorriu
una e sábia com seus peitinhos
sob a seda
e revirando o olhar
ao céu
ao leu
me lançou sua esmola
- Só se tu quiseres...
Ampliou-se a pulsação
- Podemos caminhar...
..........................
Pela avenida
não distante
ia a procissão
dos mandarins e
dos aventureiros
- reverendo à frente -
de além mar
virando a lógica
de ponta-cabeça
................
Ela me sacudiu
- Vou seguir o teu conselho
Caminhar!
nos demos as mãos
e enfim
nos acostamos
em seu pequeno quarto
aonde nos conhecemos
até que a moça
virasse bela adormecida
e eu novamente
desperto e só
a vagar
por esta rarefeita
literatura circular.





4 comentários:

Dilan Camargo disse...

Vamos vagar em Macau. Grande solução poética para o desafio que te colocaste com uma série aleatória de palavras. Aí é que se revela o verdadeiro poeta, senhor do texto. Bom, sabes que admiro o teu poetar. Vai juntando para lançar um livro.
Grande abraço. Dilan

José Antônio Silva disse...

Obrigado, Dilan.Vindo de ti, este elogio tem maior valor. Acho que experimentar - ou experibrincar - com a linguagem é sempre necessário. E a poesia é musa que se presta.
Grande abraço!

José Antônio Silva

Sidnei Schneider disse...

Não venho aqui, em macio-protocolar, cumprimentar o feito de amigo: no decorrer da leitura, a surpresa te desloca do redito e seduz com outra e mais outra, em encontro inusitado de palavras e personas. Poesia de abrir livro, convocar e maravilhar leitores. Salvei pra mim, quem sabe para uma futura consulta ao autor. Superparabéns!

José Antônio Silva disse...

Valeu, Sidnei. As tuas palavras - e para nós, tudo é palavra, né mesmo? - me incentivam. Vamos em frente, a vagar!
Um abração!

José Antônio Silva