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sábado, 3 de março de 2012

Fotografia








Retratador profundo da Porto Alegre fugaz


José Antônio Silva


Para ser um fotógrafo, creio eu, é preciso inquietação, inquietação física. É preciso caminhar e olhar o mundo, ainda que seja o mundo do nosso bairro. Nos últimos anos, um dos fotógrafos que melhor percorre Porto Alegre (e a cidade, esta dama volúvel, parece gostar de ser percorrida por ele), é o Ricardo Stricher. Essa perambulação boêmia e dispersa, vadia, pois inquietação não se confunde com ansiedade, vem produzindo algumas das mais interessantes e belas cenas usuais – noturnas e diurnas – da cidade.




Há uma chegada tão natural do fotógrafo à cena ou ao personagem em que bateu o olho, e com o qual criou empatia imediata, que quando se vê já se formou o foco e está lá a imagem congelada, na perspectiva certa, no visor.




Aparentemente, não há rebatedor, não há uma troca frenética de lente, não há aquele supertratamento de imagem no computador: ele já mostra o resultado no ato, aos amigos e desconhecidos presentes - é aquele abraço! Prato feito na hora, com os ingredientes que estiverem à mão.



Não foi sempre assim. Este andar interminável, em dias de sol e chuva, frio e calor, lua e estrelas, com a máquina pendurada



ao pescoço, em trinta anos de deambulação - que simplesmente é o que é - levou Stricher a algum lugar especial.




De bermudas desfiada, sem teorização, com a filha pela mão e a máquina na outra, o cara transformou-se num mestre da imagem urbana – sem mensagem, sem denúncia, sem formalismo (embora, é claro, tudo isso esteja lá).




Esse, que refinou seu olhar pelas ruas, bares, praças, transformou-se no retratador profundo e captador certeiro de uma Porto Alegre fugaz - mas perene. E nos surpreende com o que, por incrível que pareça, sempre esteve ali.