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quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Aspas demais, lisura de menos




José Antônio Silva



Sempre que o jornalismo pretende, de forma mais ou menos sutil, desqualificar uma declaração, pinça cirurgicamente uma palavra ou outra e a coloca entre aspas. Se for utilizado em um título, ao mesmo tempo em que põe em evidência a declaração, o recurso lhe confere um ar de estranheza, de absurdo. Afinal, em termos de inteligibilidade, não há qualquer razão técnica para destacar uma palavra com o uso de aspas.



As razões são políticas. Como se observa na Reportagem Especial das páginas 4 e 5 de ZH desta terça-feira. Vejamos o título da matéria da pág. 4: Maia aponta “ingerência” na Câmara. Em outro box, na mesma página, de novo: Petista afirma que não houve “ameaça”



Ao colocar aspas nestas palavras, é como se o jornal dissesse aos seus leitores: nós não temos nada com isso, essa besteira quem diz é ele (Marco Maia, presidente da Câmara, que lembra que o Artigo 55 da Constituição Federal garante ao Legislativo – e não ao Judiciário – o poder de cassar os mandatos de seus parlamentares).



Só que não há besteira: além de estar impressa na chamada Lei Maior do Brasil, esta condição também está presente em outras Constituições nacionais, inclusive a dos EUA.



Vale ler o que nos informa o colunista Elio Gaspari, na Folha de S. Paulo do dia 17/12: “(...) nos Estados Unidos ocorre o contrário. Três deputados, condenados, mantiveram-se nos mandatos. Dois foram reeleitos enquanto estavam na cadeia. O terceiro, Jay Kim, em 1998 foi condenado a um ano de prisão domiciliar por ter embolsado US$ 250 mil pelo caixa dois. Como era deputado, o juiz colocou-lhe uma pulseira eletrônica no tornozelo e ele só podia sair de casa para ir ao Congresso. Foi cassado pelos eleitores, nas prévias de seu partido”.



Os americanos não são petistas ou esquerdistas. Mas sabem que é fundamental para a democracia (qualquer democracia) manter a independência entre os Poderes.



O resto são aspas suspeitas.



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