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segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Política

Caso Battisti, mais um campo de batalha entre direita e esquerda


José Antônio Silva


Por que a grande mídia e seus formadores de opinião, junto com boa parte dos políticos, setores do Judiciário e militares, acham que reabrir os casos de torturas e crimes praticados por agentes da Ditadura brasileira configura “revanchismo”, mas incentivar a extradição do ex-guerrilheiro Battisti para a Itália não é?


Por que a Itália está fazendo tanto estardalhaço contra a decisão negativa de Lula, quando nunca fez (e não faz) o mesmo barulho frente à posições semelhantes de outros governos europeus, como a França, que há muito deram asilo político a militantes italianos (inclusive a Battisti, que viveu asilado durante 14 anos em solo francês)?


Seria por que consideram o Brasil, historicamente, uma nação de segundo escalão, que um governo europeu qualquer pode “enquadrar” à seu bel prazer?


Já a direita brazuca, sempre subserviente, ao unir-se a esta pressão italiana contra o parecer da Advocacia Geral da União do Brasil, não termina por confirmar o preconceito da Itália a respeito do nosso país?


Aliás, esqueceram-se que anos atrás a Itália recusou-se a extraditar ao Brasil o vigarista de alto coturno Salvatore Cacciolla, que para lá havia fugido – e a imprensa e o stablishment brasileiro não tugiram nem mugiram? Onde fica a defesa da justa reciprocidade de tratamento?


E mesmo não sendo o foco principal da discussão, quem é que divulga o absurdo de Battisti – julgado à revelia – chegar a ser condenado pela Justiça italiana por dois assassinatos que teriam sido cometidos no mesmo dia e horário em lugares muito distantes um do outro?


Por que, na discussão do presente caso, nunca se recorda como pano de fundo que a Itália do final dos anos 60 e na década seguinte – quando Battisti cometeu suas ações armadas – vivia imersa em escândalos públicos permanentes, dominada por uma camarilha de políticos conservadores e corruptos, de braços dados com poderosas lojas maçônicas e, ao que se sabe, apadrinhados pela má e velha Máfia?


Falar nisso – e perguntar não ofende - será que o sistema político italiano mudou muito, de lá para cá, considerando que o país da Bota elegeu e reelegeu um empresário e político “polêmico” (vale o eufemismo!) como Berlusconi para liderá-la?


Alguém duvida que o caso Battisti transformou-se, na realidade, em mais um campo de batalha na guerra entre esquerda e direita, e que a Justiça precisa ficar sempre além e acima destas questões, pois é a última esperança de equilíbrio, no meio das paixões? Será?



6 comentários:

Steve disse...

É vero. O curioso é o caso do Mino Carta, que é italiano e de la sinistra, e seu grande jurista Wálter Franganiello Maierovitch, que defendem com unhas e dentes que Battisti é criminoso comum e deve ser extraditado. Deve ser a excessão que confirma a regra.

Anônimo disse...

Prezado José Antônio.Pois é, uma pena que você tenha esquecido de mencionar a figura de Aldo Moro, que na época tentou unir a Democracia Cristã com o Partido Comunista Italiano. E também, é lamentável que "O Caso Battisti" tenha se transformado em uma mera discussão que mais lembra um "Gre-Nal", onde dados históricos acabam sendo omitidos, como a questão das Brigadas Vermelhas, a morte polêmica de João Paulo I, etc. E o estranho disto tudo que este ato do ex-presidente Lula conseguiu unir praticamente todas as matizes ideológicas da Itália...por que será??!!
Sds democráticas,
Cassiano de Oliveira

José Antônio Silva disse...

Prezado Cassiano, a história italiana do período é realmente cheia de episódios dramáticos, como a morte de Aldo Moro, pelas Brigadas Vermelhas.Para citar tudo isso e contextualizar seria necessário um longo ensaio. Não é o caso nem a intenção.
Mas reafirmo que a Itália atual, sob a égide berlusconiana,trata tudo com dois pesos e duas medidas. Por ex.:Berlusconi nega-se a entregar à Justiça uruguaia o capitão Jorge Troccoli, acusado da morte de centenas de opositores da ditadura, e agente da Operação Condor (e bota dor nisso!)
Um abraço!

Anônimo disse...

Prezado José Antônio.
De fato, existe todo um contexto histórico complexo, mas entendo que isto deveria ser mencionado, mesmo que em poucas linhas. E quanto a Berlusconi, talvez pelo fato de estar politicamente, à beira de um colapso, é um indicativo deste uso político da questão Battisti...assim como é esta questão do torturador uruguaio. Contudo um detalhe que deve ser mencionado: o governo italiano vem solicitando a extradição de Battisti não desde tempos de Berlusconi mas sim do governo do anterior, de Romano Prodi, cuja a matiz ideológica é bem diferente da de Berlusconi...por sinal bem alinhada com a do governo brasileiro...
Abs, Cassiano (talvez você não lembre de mim...escrevi uma reportagem sobre o trágico fim dos arquivos da Coojornal para o jornal "Versão dos Jornalistas" em 1998.)

José Antônio Silva disse...

Ah, sim, lembrei de ti agora. Muito bem, o tema realmente é extenso, Cassiano.
Obrigado pela colaboração.

Anônimo disse...

Prezado José Antônio...prazer rever você por aqui. E quanto ao caso Battisti, é aguardar os desdobramentos, tanto aqui no Brasil quanto lá na Itália. Abs, Cassiano