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domingo, 26 de dezembro de 2010

Crônica MInha

A hora da justiça cósmica

José Antônio Silva

Condições sociais, defeitos físicos, problemas psicológicos e emocionais que nos caracterizam e nos fazem sofrer, formam o deserto de pedras pontiagudas que devemos atravessar, descalços - e que conhecemos pelo nome de Vida. Se resistimos por um tempo razoável, idosos ou não, terminamos por nos acostumar às irregularidades do terreno e ao sol inclemente, ou então, sob nossos pés, desenvolvemos uma crosta calosa que faz com que eventualmente esqueçamos a dor. E cheguemos até a parar, vez ou outra, apenas para apreciar a paisagem.

Mas você há de apontar um dedo indignado para este ou aquele fruto do privilégio e da riqueza, que do berço à cova só conheceu do bom e do melhor. Que jamais soube o que é ser feio, aleijado, barrado em qualquer portão; que nunca conheceu a angústia cortante do desemprego; para quem todos os desejos foram possíveis e realizados. E que ainda se deu – sem traço de culpa ou arrependimento – o direito de ser arrogante, prepotente e explorador.

O seu coração – é, o de você mesmo, que me lê – ferve de ódio ao pensar como o mundo, ou o destino (o nome do jogo não importa), pode ser cruel, desigual e sem sombra de justiça.

Não morra de impotência, porém. Assim como você na aridez do deserto, ele – na maciez da seda, da pele das mulheres mais lindas ou na velocidade dos carros de luxo – viu crescerem em seu espírito, aos poucos, uma angustiante insatisfação e a erva não erradicável das dúvidas, do vazio, do câncer e da loucura.

Cercado de aproveitadores e falsos amigos, parentes contando os dias para colocar as garras em sua herança, ele se vê imerso no tédio infinito, cortado apenas pela percepção do rancor de serviçais a quem ele tantas vezes sequer percebeu como seres também humanos, e que o rodeiam hoje já sem se darem ao trabalho de sorrir.

Agora, antes de fechar os olhos e apagar a luz desta vida de vez, intui que seu sofrimento está recém tendo início.

Samsara vai equilibrar todos os pratos, de novo e de novo.

Verdade? Não sabemos, mas se não for, pelo menos se trata de um excelente consolo para nós, virtuosos sofredores, em busca de alguma justiça, ainda que cósmica.

Não é mesmo, seus rancorosos de uma figa!? Vocês vão ver, invejosos, na próxima encarnação!!

4 comentários:

Augusto Bier disse...

Nem vem, não troco a vida mansa pela sabedoria das pedras!

Unknown disse...

Pois é, amigo Zé...
Tua lavra cada vez mais lúcida, pois de mente livre. Desconfio que por isso esses óculos "fotocromáticos", meio-grau, meio-sombra: deves andar com ofuscamento ao olhar no espelho...
Grande abraço, e um 2011 bem ins-pirado prá nós. Tudo de bom e belo.
Jorge

Steve disse...

Ah, ah, ah, muito boa. Samsara não perdoa ninguém!

Alexandre Brito disse...

\o/
karma,
karma...

Karmaí Zé!!

:O)

feliz ano toto!