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sexta-feira, 6 de novembro de 2009

MPB



Abecedário Musical Impressionista - 4ª Leva


José Antônio Silva


Arnaldo Baptista – Sempre andou meio desligado, mesmo quando era psico-elétrico. Um caso à parte, escutava o diferente que os outros não ouviam. Fez fusões e confusões. Uma tragédia rock n’ roll/tropicalista. Nunca saberemos até onde chegaria musicalmente - não tivesse aprendido a voar de uma janela. Continua por aí, à procura de si, emocionando a platéia.



Clementina de Jesus – Força da natureza, mãe preta/mãe África, voz grave e anasalada de lavadeira do Brasil, impõe que se lhe peça a bênção. Enxaguando corimas, jongos, lundus, incelenças e modas – desaguando no samba de raiz. Experiência forte. Mas vá sem medo: prazer sem ressaca.


Dorival Caymmi – Em ortodoxo ritmo baiano, Do – ri – val – Ca – y – mmi foi construindo sua obra referencial sem se preocupar se era obra e muito menos se era referencial. Aos poucos, quase sem sair da rede, queixando-se à/de Marina Morena, constatando que o mar que bate na areia é bonito é bonito, queiram ou não, foi conquistando o Brasil com seu jeito manhoso e suas canções praieiras todas próprias.

Jards Macalé – Uma das peças soltas na engrenagem azeitada da MPB, buscador de linguagens e soluções pessoais – incluindo o toque próprio de violão – lá pelas tantas assumiu-se como sambista continuador/herdeiro de Moreira “Kid Morangueira” da Silva, mas é menos e mais que isso. Esteve em todas as turmas e movimentos, mas o seu é um pequeno e sutil movimento pessoal, movimento dos barcos, viajando de Cantareira.

Lobão – Estilo sequela ligth, já criou várias e belas canções pop/rock para tocar no rádio blá, blá-blá-blá eu te amo. Vida menos bandida, mais perdida, a meio palmo do chão. Até João Gilberto abriu uma vaga em seu repertório secular para declamar “Me Chama”. Ao compor, a música regula a verbosidade descontrolada do Lobão das entrevistas.

Nara Leão – Voz muito afinada, pequena, algo de infantil forever. Doce fruto da burguesia protegida da Zona Sul, descobriu o mundo exterior e seus problemas através da música e dos amigos músicos – o samba canção, a canção de protesto, a tropicália – após sua iniciação na elite bossanovista, da qual foi princesa. Olhos de ressaca, virou ícone de um Rio ainda suave, até porque não chegou a ver, ouvir e cantar o que viria.

3 comentários:

Nei Duclós disse...

Impressionismo é cânone. Magnífico dicionário. Observo em notas de pé de página: Caymi canta muito os perigos do mar, o ofícipo de pescador que some; sua rede de espera na praia é muito do cantador que faz companhia às mulheres que aguardam novidades do horizonte. Sua lassidão vem da esperança de coração na mão, pressintindo a gula de Iemanjá. Macalé, tens razão, assumiu o movimento dos barcos que Capinam fez para ele cantar. Clementina é doce brasileiro, oferecido na rua, no Brasil de Gilberto Freyre. O mutante Arnaldo é um dos poucos gênios que vi/ouvi no palco, numa performance chapliniana, além da música e por ela sacrificado. Bom viajar aqui no Lavra Livre, front e reduto.

José Antônio Silva disse...

Obrigado! Uma riquíssima nota de pé de página!
Grande abraço, Nei!
Zé Antônio

Anônimo disse...

Esses perfis estão muito bons.Vai dar música, opsss, livro. Jorge Fróes