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domingo, 4 de outubro de 2009

PERFIL

Introduzindo
Aqui vai reproduzido um breve perfil de meu trabalho como poeta, publicado no blog www.umbigodolago.blogspot.com , do poeta e ensaista Sidnei Schneider, dia 28 de setembro de 2009. Se não gostarem, reclamem com ele!

POETA CONVIDADO: JOSÉ ANTÔNIO SILVA

Sidnei Schneider

A partir do Çoita - grupo que em 2000 reuniu os poetas Ronald Augusto, Oliveira Silveira, José Weis, Cândido Rolim, Jorge Fróes, Haroldo Ferreira, José Antônio Silva e este blogueiro - ficamos amigos. Zé, como quase todos o chamam, é daquele tipo de escritor que produz o seu trabalho, lança os seus livros, participa de eventos e encontros, e, sem apego à excessiva badalação, vai construindo uma trajetória sólida e continua. Sem pressa ou afobamento, como deve ser.

Tiques & Taques (São Paulo: Klaxon, 1984) foi seu primeiro livro de poesia, hoje raridade. Seguiu-se o excelente Lá vem o que passou (Porto Alegre, SMC, 1995), da Coleção Petit Poa. Desses, vão publicados abaixo um poema de cada.

É autor da novela Diabo Velho (Porto Alegre: Mercado Aberto, 1998) e de O nome do Fuinha, e outras histórias de crime, mistério e algum amor. (Porto Alegre: AGE, 2003). Resenhas e ensaios jornalísticos estão reunidos em A Impressão da Cultura (Porto Alegre: Sulina, 1990).

Mas começou a publicar na década de 70, no antológico Há Margem (Porto Alegre: Lume, 1975), com outros doze autores, entre os quais Nei Duclós e Sérgio Capareli. O título não evidenciava apenas a literatura marginal produzida na época, indicava uma convicção na possibilidade de superar os anos difíceis de ditadura. Seguiu-se Vício da Palavra (São Paulo: Garnizé,1977), esforço cooperativado de 28 escritores, entre eles Caio Fernando Abreu, e ilustradores como Jayme Leão, Chico Caruso, Magliani, Santiago e Cláudio Levitan. Na década de 80, com os poetas Celso Gutfreind e José Weis, articulou o Vício e Verso, que fazia apresentações de poesia. Participou da revista-livro Continente Sul-Sur nº 9 (Porto Alegre: IEL, 1998.) e de Antologia do Sul, poetas contemporâneos do RS (Porto Alegre: Assembléia Legislativa, 2001), reunião de 90 poetas em plena atividade no período.

Mais poemas, contos e crônicas de José Antônio Silva, que também é jornalista, em Lavra Livre, blogue no qual se diverte: agora/ como um cão/ eu curto um post.

PURA

És tão pura,
sua puta
- além da imagem.

És puríssima
- Deus sabe.
Sabe o frade?

És a puta
sem pecado,
rito de passagem.

És purinha
- toda puta –
entre as comadres.

És pura mistura,
o tanto da flor,
a cara de laje.

És tão puta
- mas tão pura –
que isso arde.

És pura puta,
minha santa
- és o auge.

Lá vem o que passou, Col. Petit Poa,
Porto Alegre, SMC, 1995.



GAFANHOTO SÓ

Lá vem o gafanhoto
no meio da rua
frágil ágil
(na inconsciência
do quanto é vulnerável)

Um palito
com duas pernas secas
e dois braços tal e qual
enfrentando – chinelo de dedo –
o mundo moderno
ocidental
digital
exato caos

Lá vem ele
o gafanhoto
- por favor, um pouco de emoção! –
rufem os tambores
do coração
para o triplo salto mortal:
um gafanhoto
na Avenida São João

Tiques & Taques, São Paulo: Klaxon, 1984.


PORTO

Havia um porto premeditado
entre peixes
navios
e águas virtuais;

havia um ponto no futuro
ainda antes de haver porto
barcos
ou qualquer água;

havia um poço em ebulição
onde tudo se formava
definia
projetava;

havia um posto avançado da vida
- como a conhecemos -
no tecido do infinito.

Havia a cintilação do que há hoje
como imagem
que apenas esperava:
um porto singelo
num estuário de lago e rio
onde um pequeno bote
a remo
deixa seu rastro invisível
lento
pela memória das águas.

Antologia do Sul, Poetas Contemporâneos do RS,
Porto Alegre: Assembléia Legislativa, 2001.


Poemas de José Antônio Silva.
Publicação autorizada pelo autor.

2 comentários:

Pedras disse...

Olá, José Antônio!
Gostei imenso do blog. Um dos teus poemas fez-me lembrar de uma conversa que ouvi ontem no terminal, entre "veteranos meninos e meninas de rua: "... fica sabendo que minha mãe me abandonô quando tinha 13 anos, ela era mais puta que galinha, e eu fiquei ali ó (e apontou para a Pç. Glênio Peres), esperando ela até hoje." E esses velhos meninos e meninas riam de seus contos... Abraço, Neli Germano

José Antônio Silva disse...

Obrigado, Neli. Mas é incrível não só o falar das ruas, que acho muito interessante e rico, mas a capacidade destas pessoas rirem de suas misérias...
Não há poema que ghegue lá

um abraço
Zé Antônio