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domingo, 4 de outubro de 2009

Crônica Minha

Cê viu a Néris?


José Antônio Silva


- Não adianta, não entendo Néris!


- Néris? Que Néris?


- Néris de Pitibiriba, ora!


- Ah, a Néris de Pitibiriba.. Mas essa ninguém entende, Sicrano, ninguém sabe nada dela (eu tentava levantar o astral e a auto-estima do meu amigo). - Mas por falar nela, onde anda a moça?


- Não sei, esse é o problema! Não sei Néris de Pitibiriba!


Resolvi não insistir com o Sicrano, parecia uma conversa de loucos. Porém, ele estava injuriado:

- A última vez que tive notícias, ela andava com um Fulano de Tal.


- Com Fulano de Tal? – estranhei. – Mas me disseram que era com o Beltrano (falei e na hora percebi, arrependido, que falara demais).


- Com o Beltrano também?!! – ele espumava. – Mas é uma vaca!


- Bom, desculpe perguntar... Mas vocês tiveram um caso, não é? Tá me parecendo, pelos teus ciúmes...


- Olha aqui! Eu não admito que um João Ninguém como você se meta na minha vida!


- Mas quem começou a falar nela foi você, Sicrano!


A essas alturas, quem chegava era o Zé Povinho, sempre curioso.

- Ué! Sicrano e João Ninguém discutindo em altos brados... O que é que tá pegando?


Tentei esfriar o assunto:

- Olha aí, Zé, é só uma conversa entre amigos. Eu...


Sicrano, no entanto, continuava uma fera. Eu tentava acalmá-lo quando dobrou a esquina ninguém menos que a Maria Vai com as Outras.

- Oi, pessoal! O que nós vamos fazer hoje? Tem balada nesta sexta?


- Não sei e não quero saber, Maria! – explodiu Sicrano. – E se tiver, você vai com as outras, com suas amigas Patricinhas. Comigo não!


Maria Vai com as Outras concedeu um sorrisinho maroto:

- Mas quem tá saindo com a gente é alguém que te interessa, que eu sei... A Néris...


Sem que eu percebesse, também o Popular já se encostara por ali, com seu infalível embrulho debaixo do braço. O que não era nada, considerando que se aproximava, gingando, o bonde do Vida Louca. Achei que era um momento bom para vazar.


Enquanto me afastava, descendo a ladeira, cruzei com um velho conhecido e não estranhei: era mesmo a hora do Chico vir de Baixo.


Levei um susto foi com um grupo de crianças em disparada. Levantei o olhar: era o velho Velho do Saco que atravessava a rua.


Resolvi fazer o mesmo e por muito pouco não fui atropelado: ultrapassando o sinal vermelho, cantando pneu a toda velocidade, zarpou por mim o Filhinho de Papai, a bordo de seu carrão. Algumas Pessoas de Bem, dirigindo-se à missa, sacudiram a cabeça – inclusive o pai do garotão, que fingiu não conhecer o motorista.


Mas antes do Filhinho de Papai desaparecer na distância com seu carro, ainda consegui distinguir quem ia ao seu lado, às gargalhadas... Isso mesmo, vocês adivinharam – ela, a Néris de Pitibiriba!


Cheguei ao outro lado da calçada a tempo de ver o Correria em sua moto velha de guerra salpicando de barro as roupas impecáveis do sempre elegante Mauricinho.


Desviando do Louco de Pedra, que fazia um discurso aos passantes pela moralidade pública, fui em frente, em busca de algo menos real.

4 comentários:

Steve disse...

Essa é de Queiroz!

Juliana Meira disse...

"o velho Velho do Saco"! risos

grata pela presença do poeta no tempoema. abraços!

Eduardo Simch disse...

Batata!!

José Antônio Silva disse...

Abração, Juliana!
e se tempoema, estamos lá!

Zé Antônio