Temas

sábado, 18 de julho de 2009

Crônica Minha



A maldição da Rainha Má no Reino dos Gaudérios


José Antônio Silva


No distante Reino dos Gaudérios, ou Gaudéria, há muitos anos uma rainha má impunha grandes sofrimentos aos seus súditos. Cercada de seus cortesãos, vivia em alto luxo, enquanto a plebe amargava uma vida de pobreza e ralas moedas ao fim de cada jornada.


Quando os representantes das corporações reclamavam da miséria que lhes era imposta, a soberana justificava: “Este é um sacrifício que todos precisam dividir, para que as finanças do reino voltem à normalidade e as burras do tesouro fiquem novamente cheias”.


As burras do Tesouro - Mas quem já estava cheia, mesmo, eram as burras e os burros de carga, que não suportavam dar tanto duro e só receber em troca migalhas, pancadas no lombo e explicações arrogantes.


Para piorar, Sua Majestosa Crueldade concedia benesses e mordomias sem fim aos seus conselheiros mais próximos e aos membros da Família Real. Seguia uma regra de ouro: “Para os amigos, tudo. Para os inimigos, justiça!”.


E a justiça que aplicava era sumária e duríssima: sua Guarda Real já executara um pobre artesão – logo que a Rainha chegara ao trono – que tivera o desplante de reclamar uma vida melhor para ele, sua família e os demais plebeus do reino.

Mais: seu próprio embaixador junto a um país amigo aparecera boiando sem vida num lago distante, com o cavalo amarrado à uma ponte. Comentava-se que o cavalgante diplomata sabia demais sobre as intrigas da corte...


O feiticeiro - Como sempre nessas histórias, também havia um bruxo neste reino, uma eminência parda. Tratava-se do Mestre, o próprio príncipe consorte – aliás, com mais sorte que juízo, dizia o populacho.


“Crusius Credo!” – bradava o feiticeiro o seu encantamento, nos porões do castelo. Era conhecido por seus estudos sobre a moeda, e que fazia desaparecer grandes quantias de ouro com um passe de mágica.


Aparentemente do nada, Sua Majestosa Crueldade e Mestre Crusius Credo fizeram surgir de uma hora para outra um rico palacete de verão, numa região literalmente nobre da capital do reino.


O povo cochichava na rua, e até as folhas coladas às paredes para informar os burgueses já não podiam deixar de estranhar o milagre.


Traidores da Rainha Má, temendo que suas cabeças rolassem também, iam pouco a pouco revelando seus segredos e as conjuras tramadas antes e depois da chegada ao poder.


Ouro para os comandantes - A ferro e fogo, Sua Majestosa Crueldade impunha sua ordem desordenada e sem lei. No entanto, dentro da própria Guarda Real, havia rumores de insatisfação: por que os comandantes recebiam mais e mais dobrões de ouro, sobrando para os soldados o risco das vielas escuras e a revolta crescente da plebe? E por um punhado de níqueis!


Um reino antes rico e respeitado pelos vizinhos, agora a Gaudéria sofria o desprezo alheio e via as populações cada vez mais sem trabalho, adoecendo sem médicos ou curandeiros, sem instrução nem esperança. Os filhos da plebe que insistiam em ter educação, eram confinados em grandes caixas de metal – sob o calor infernal do verão e o frio congelante do inverno gaudério.


A Rainha Má a tudo respondia justificando-se com a carência de dobrões, que a impedia de proporcionar uma existência melhor a todos os súditos. Vivia, porém, cercada de luxo em seu novo palácio, trocando seus conselheiros sucessivamente, numa tentativa de calar a boca da população.


Trânsito de carroças - Mas todos sabiam que o trânsito de carroças do reino fora entregue a um grupo de nobres cobiçosos, que tinham desviado do tesouro real nada menos que 44 milhões de dobrões em ouro.


Com a Guarda da Rainha dividida, as corporações e guildas de trabalhadores sem poder esconder sua revolta, os lavradores abandonados e os saqueadores agindo livremente pelas ruas e estradas do reino, a população aguardava que novos tempos chegassem o quanto antes. Como de costume, queriam ser felizes para sempre, ou pelo menos durante os próximos anos.


Mas a maldição da Rainha Má ainda não havia terminado.


Uma pergunta permanecia no ar: até quando?




Gaudéria, 18 de Julho do Ano da Graça de 2009


4 comentários:

Nei Duclós disse...

Esse reino custa uma fábula. Seriam Os Últimos Dias de Gaudéria? Abs.

Steve disse...

Cortem-lhe a cebeça!

Lesia disse...

Considerando-se que a rainha era uma invasora, opino por sua expulsão imediata, ela, seus conselheiros, afilhados, compadres, filhos e netos. E que lhe seja exigida a devolução dos dobrões expurgados à gauderiada!
Lesia

Ines Bernal disse...

Seria cômico se não fosse trágico !! abração