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domingo, 15 de junho de 2008

Crônica Minha (4)

Barack, de carona no tsunami político das Américas


À sua maneira – a maneira norte-americana de ser – os EUA estão prestes a pegar carona na última vaga do tsunami político que vêm varrendo a América Latina de dez anos para cá. Uma onda gigante que, para desespero dos neolibs e conservadores em geral, colocou um ex-operário de esquerda e sem diploma na Presidência do Brasil. Duas mulheres no posto político mais alto, no Chile e na Argentina. Um índio no comando da Bolívia. Um milico mestiço e falador na Venezuela – e uma série de outros líderes de variados matizes socialistas na proa da América do Sul.

Com Barack Obama, os States de algum modo integram-se a esse movimento histórico no continente – desde que, é claro (ou, aqui, escuro), o povo americano vote no candidato negro.

Em todos os casos citados – negro, mulheres, índios, mestiços, operários – a derrubada de preconceitos raciais e sociais, talvez não por acaso, esteja encarnada em políticos de esquerda. Em relação a Obama, bem menos: mas votar nos democratas nos Estados Unidos, num sistema que de fato é bipartidário e em que a outra opção concreta é o Partido Republicano, muitas vezes significa ser a esquerda possível.

É ainda mais impressionante a atual situação eleitoral norte-americana considerando-se que há apenas 40 anos havia uma situação de racismo ostensivo nos EUA, quando pessoas negras sequer podiam viajar nos mesmos ônibus que os brancos, em vários estados sulistas. Hoje, como está mostrando a trajetória de Obama, parece não haver limites na evolução dos direitos civis dos negros e outras minorias, ao menos no campo institucional.
É preciso reconhecer que, independente de seu conservadorismo político, dos interesses econômicos escusos e dos crimes que leva nas costas, o próprio Governo Bush revela esta realidade. Ele indicou como secretários de Estado dos EUA, em seqüência, os negros Collin Powell (general) e Condoleezza Rice, ou o latino Alberto Gonzalez para a pasta da Justiça, entre outros não anglo-saxões.
Verdade, duríssima verdade, que para chegar ao estágio atual muita gente boa precisou ser assassinada a tiros (especialidade americana), como o ícone Martin “I have a dream” Luther King, através da arma (alma?) cruel do racismo.

Se Barack – um afro-americano com nome árabe! – conseguir realizar a proeza de que parece capaz, uma parte do melhor sonho americano, o do país da oportunidade para todos, pode finalmente ficar mais próximo de se concretizar.

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